terça-feira, 30 de novembro de 2010

PoP - Final

“ Don't jump
And if all that can't hold you back
I'll jump for you ”

 Eu encarei o precipício. Sabia o que fazer. Era a única forma de me livrar das lembranças, das dores. Não causaria mais problemas para ninguém, nunca mais.
 Eu caminhei lentamente até a beirada, o eclipse estava completo, o que deixava tudo muito mais escuro. Estava frio, mas eu não precisava me preocupar, logo passaria. Eu tirei minhas sandálias e as joguei para baixo. Segurei em meu vestido, erguendo-o, dei alguns passos para trás e corri para a ponta do precipício, atirando-me em seguida.
 A sensação de cair e cair sem parar fez com que eu me lembrasse de Alice. Um momento muito inoportuno. Mas então, fez com que eu me lembrasse de Aladdin, do meu Aladdin. Eu o vi sorrir mais uma vez, eu senti seu calor, seu abraço, e o sabor de seu beijo. Eu comecei a sorrir com isso, fechei meus olhos para que eu pudesse vê-lo melhor. Joe abria os braços para mim, e eu ia ao seu encontro, como devia ter feito há quatro meses atrás.


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Agradeço à todos que conseguiram ler até o final. Gostaria de dizer que consegui o terceiro lugar no Challenge com essa fic, e o prêmio de Melhor Kevin *-* fiquei tão, mas tããão feliz *-*
Novamente, dedicada à Alana Donola :*

PoP - Capítulo VI

“ I don't know how long
I can hold you so strong
I don't know how long

Just take my hand
I'll gave you the chance
Don't jump ”

E lá estava minha lembrança preferida e a que eu mais odiava. A que mais me machucava. E lá estava o eclipse, ainda não estava completo, mas estava quase. Eu sabia, faltava apenas mais uma lembrança. A que havia me matado por dentro. Me dilacerado, roubado toda a minha vontade de viver. Era a mais recente, e a mais perturbadora. Eu sabia que um coração machucado faria bem para Joseph, mas não sabia até que ponto seria saudável machucar seu coração. Eu me levantei e apenas esperei que ela chegasse. Eu não lutava mais contra elas. Era completamente inútil. Assim como o eclipse, eu não podia impedi-las, apenas deixar que acontecessem e assisti-las novamente.

# CAPÍTULO 6 – Quatro meses atrás/ Duas semanas atrás

 Acordei no dia seguinte com Joe respirando em minha nuca. Eu sabia que ele tinha o sono mais pesado do mundo, demoraria para acordar, e mesmo que eu derrubasse a casa, ele continuaria dormindo.
 O sentimento de culpa era quase tão forte quando o de querer repetir a transa com Joe. Se eu os colocasse em uma balança, ela ficaria perfeitamente equilibrada. Mas eu não tinha tempo para pensar se sentia culpa ou se acordava Joe para fazermos mais uma vez. Eu tinha que juntar minhas coisas.
 Levantei-me da cama e cacei minhas roupas pelo quarto, vestindo-as apressadamente e tentando fazer o mínimo de barulho possível. Depois de vestida, procurei por uma caneta e um papel, mas encontrar alguma coisa naquele quarto era impossível e eu não tinha tempo. Por sorte, eu tinha um batom em meu bolso (e incrivelmente, ele ainda estava lá). Me aproximei do espelho do quarto dos garotos e escrevi minha mensagem.

“Desculpe Kevin. Não devia ter feito isso.
Desculpe Joe, mas estou cumprindo minha promessa.
Amo vocês.
Alana”

 Deixei o batom vermelho no criado mudo do quarto e a chave da casa deles também, saindo dali o mais silenciosamente que eu conseguia. Me esforçando para não olhar para trás e ceder à tentação de voltar para a cama de Joseph.

 Corri para casa, meus pais também estavam viajando. Juntei tudo o que pude em uma mala e peguei as economias de casa. Teria que ser rápida antes que Joe acordasse e viesse me procurar. Parei o primeiro táxi que vi na rua e mandei ele me levar até o aeroporto. Não deixei bilhetes em casa, não haveria necessidade. Comprei uma passagem só de ida para o Texas e aguardei me chamarem para embarcar no avião. Quando o fizeram, eu tirei meu celular do bolso e o atirei na primeira lata de lixo que encontrei. Embarquei no avião e nunca mais olhei para trás. Sabia que tio Johnny e tia Sam me receberiam bem e aceitariam que eu morasse com eles. Jane também ficaria feliz em me ver.
 Se eu estava fazendo o certo ou não, isso eu não queria saber. Mas senti que era melhor para todos os três que eu simplesmente sumisse da vida dos Jonas. Já havia causado estragos o suficiente para toda uma vida.

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 Há duas semanas, enquanto eu e Jane arrumávamos a sala e ouvíamos a televisão, a chamada para uma notícia sobre os Jonas Brothers fez com que eu parasse com tudo para assistir. Somente assim eu sabia o que acontecia com meus garotos, se estavam bem, onde estavam. Eu pedi para que meus pais não contassem onde eu estava, nem se eles pagassem, e eu confiava neles o suficiente para me sentir segura no Texas. Mas fazia muito tempo que eu não ouvia notícia deles na televisão, e eu me limitava a não procura-las na internet. Se fosse algo importante, sairia na TV.
 Apareceu uma foto de Joe na tela, ele havia cortado um pouco o cabelo. Estava bonito, mas parecia um ato de rebelião. Mas foi a manchete que me assustou.
 Em letras grandes e amarelas estava escrito tudo o que eu não queria ler. “Joe Jonas se suicida.”.

- Não. – foi tudo o que eu consegui dizer. Eu me sentei no sofá, paralisada, Jane colocou a mão sobre meu ombro. Eu aumentei o volume.

“New York amanheceu com uma agitação caótica. A banda Jonas Brothers estavam na cidade para iniciar uma nova turnê mundial, mas nesta manhã, algo trágico pôs fim na felicidade de inúmeros fãs e da família Jonas.”

 Então apareceu um vídeo amador. Havia alguém em pé no parapeito de um apartamento. Lá embaixo, no chão, inúmeras pessoas se aglomeravam aos berros, segurando placas escritas “I ♥ Jonas” ou trechos de suas músicas. A pessoa que filmava aproximou a câmera de quem iria pular, e instantaneamente eu vi que era Joe. Ele chorava, desesperadamente, e gritava alguma coisa que eu não conseguia ouvir, mas podia ler em seus lábios. E foi isso que me matou. “Alana! Volte! Estou indo ao seu encontro!”. E ele pulou. E o cinegrafista cortou assim que ele saltou.
 As lágrimas me afogaram e eu só conseguia negar com a cabeça. Não podia ser verdade. Eu não podia ter feito isso. Ele não podia ter se jogado por minha causa. A jornalista voltou a falar.

“Joe Jonas estava sozinho em seu apartamento, seus irmãos não puderam impedir. E New York começou seu dia com uma grande perda. Nossos pêsames para todos os fãs e para a família Jonas. O corpo de Joe será velado ainda hoje na mansão dos Jonas, será aberto para todos os fãs. E eu gostaria de pedir um minuto de silêncio para este rapaz que fez tanto quando vivo.”.

Eu continuava negando com a cabeça, me afogando nas lágrimas, soluçando. Era minha culpa. Joe estava morto e era minha culpa. Eu levantei e corri para fora, gritando desesperadamente, jogando-me de joelhos no gramado, arrancando meus cabelos. De todas as dores que Joe já havia feito com que eu sentisse, nada superaria aquela, porque desta vez, eu sabia que ele não viria com seu piano para me curar e dizer que tudo estava bem.

PoP - Capítulo V

“ Somewhere up there
You lost yourself in your pain
You dream of the end
To start all over again ”

Eu me sentia sufocada. Sabia que, assim que o eclipse se completasse, a pior de minhas lembranças iria me invadir. Eu não queria me lembrar daquilo. Era a pior, mas ao mesmo tempo, a que me deixava mais satisfeita. Era incrível como eu ainda conseguia me lembrar do calor exato de sua pele, o sabor de seu beijo, o jeito como os olhos dele brilhavam para mim. Joe me amava, ninguém poderia negar isso. Mas, por que ele havia me machucado? Eu nunca pude descobrir. Por que eu estava sendo tão cruel com ele? Eu sabia a resposta, mas não queria dá-la para ninguém, nem para mim mesma. Eu tinha medo de que, no fundo, eu era um monstro tão orgulhoso quanto ele. Mas a linha de Joe já estava totalmente torta, ele não sabia mais por qual caminho seguir, ele só queria o próprio final, saber o que esperava por ele. Minha linha sempre havia sido reta, decidida, direta. Joe a desviou quando me beijou pela primeira vez. Desde então eu não consegui colocá-la de volta no lugar.

# CAPÍTULO 5 – Quatro meses atrás

Namorar com Kevin estava sendo muito mais fácil do que fingir um namoro com Joe. O mundo sabia que Kevin e eu estávamos juntos. Eu sorria, eu cantava, eu podia sair com meu namorado, podia beijá-lo onde eu quisesse que não haveria problema algum. Parecia perfeito para todo mundo. Mas claro, para mim não.

Meus planos de fazer o coração parado de Joseph bater não pareciam dar resultados. Assim como eu tentar fingir ter algum orgulho não era algo fácil. Não era natural, e ele sabia disso. Não nos falávamos mais. Nem comíamos na mesma mesa. Se ele entrava, eu saía. Se eu falava, ele dava as costas. Era um clima pesado, mas os outros tentavam deixá-lo mais ameno. Não estavam obtendo sucesso, mas nós dois ao menos fingíamos que tudo estava bem perto de nossos pais.
 Eu estava indo para a casa dos Jonas fazer uma surpresa para Kevin. Eu tinha planejado fazer um bolo e brigadeiro com ele. Denise havia me dado uma cópia da chave da casa deles. Eu entrei normalmente, estranhando a casa silenciosa. Eu tinha certeza que ao menos Kevin estaria em casa. Talvez ele estivesse dormindo. Comecei a subir as escadas e ouvi o som do chuveiro ligado. Ele estava no banho, eu iria aguardá-lo no quarto, quietinha, para assustá-lo.  Eu me escondi atrás da porta e ali fiquei. Uns cinco ou dez minutos depois, ouvi a porta do banheiro abrir-se, os passos vagarosos de Kevin vindo em direção ao quarto. E assim que eu vi a toalha branca passar pela porta, eu pulei em suas costas. Mesmo assustado, ele me segurou, mas havia algo de diferente nele.

- Surpresa, amor! – eu lhe dei um beijo estalado na orelha.
- É, eu estou surpreso, Alana. – não era Kevin. Era Joe.

Eu me soltei dele rapidamente, atônita e envergonhada. Contudo, precisava manter a calma e a postura. Só então reparei em como Joe estava. Apenas de boxer novamente, como há alguns anos atrás. Me esforcei para não ficar corada. Ele agia com naturalidade, esfregando a toalha nos cabelos molhados.

- Onde estão todos? – perguntei da forma mais seca que consegui.
- O seu namorado não te contou? Que pena. – ele me deu as costas para pegar alguma coisa dentro do guarda-roupas.
- Onde, Joseph? – exigi novamente, me aproximando dele e tentando parecer ameaçadora.
- Que é? Acha que eu os matei, é Wendy? Não enche. – ele pegou uma camisa, a mesma que ele havia me emprestado anos atrás, a do Coringa, e vestiu – Mas tudo bem, se eu te disser você vai embora mais rápido. – ele me encarou novamente – Mamãe, papai, Nick e o seu namoradinho foram para Los Angeles comprar alianças de noivado para você e Wendy. – sua voz era áspera, como se aquela fosse a pior notícia do mundo. E era. Kevin iria me pedir em casamento. O que poderia ser pior do que isso? – Eles voltam só amanhã a noite. Agora pode ir embora.

Eu estava estática. Paralisada. Não conseguiria dizer não para Kevin, mas também não conseguiria me casar com ele. Isso jamais! Afinal, que tipo de monstro eu era? No que eu havia me transformado? Kevin era a pessoa mais doce, amável e... Boa do mundo. O que eu estava fazendo com ele? Eu queria machucar Joe, não Kevin. Por que eu havia metido Kevin nisso?
Joe continuava me encarando nervoso, vestindo apenas a camisa. Eu não havia movido um só músculo, mas sentia que estava a ponto de chorar. Eu dei as costas e ameacei sair do quarto. Já estava fora dele quando senti Joe segurar em meu braço.

- Antes de ir embora e ficar noiva de meu irmão, pode me responder uma coisa? – o tom áspero não existia mais. Agora eu estava ouvindo o tom de voz que há anos eu esperava ansiosamente para ouvir. Suplicante, doloroso. Era a voz que eu queria atingir, mas eu não sabia os efeitos que ela teria sobre mim. Eu voltei a encará-lo, e apenas concordei com a cabeça. – Você me ama?

A Terra moveu-se de uma forma estranha, como se ela tivesse feito um giro ao contrário. Não era como se estivéssemos avançando no tempo, e sim voltando. Eu tive que procurar um relógio pelo quarto para ter certeza de que não era isso mesmo, mas cheguei à conclusão que Kevin e Joe odiavam despertadores. Ele continuava me olhando, eu me perdi em seu brilho. O brilho que eu queria. Joe estava sofrendo com tudo aquilo. Eu havia conseguido. Mas, o que eu ganharia com isso? Não poderia dizer que o amava, terminar com Kevin, machuca-lo e voltar com Joe. Eu havia feito uma grande bola de neve, essa era a verdade. Eu estava tão presa que não tinha mais solução.

- Me responde, Alana. – ele aproximou mais o rosto do meu, o hálito quente de menta tocando meu rosto. Eu senti alguma nostalgia naquele momento, como se tivesse ficado dopada. – Você me ama?
- Amo. – pronto. Eu havia acabado de assinar minha sentença de morte. Todos os meus planos, todo o trabalho que eu tive para fazer o coração de Joe bater haviam sido jogados fora. Apenas as minhas feridas que não pareciam ir embora junto com isso. Pelo contrário, eu estava abrindo mais uma. Eu, e apenas eu. Não Joe, não Kevin. Mas eu. Eu mesma estava me machucando. Eu era uma grande masoquista, essa era a verdade.

Então senti as mãos quentes de Joe tocarem minha cintura e me puxarem para si mesmo. Os lábios dele voaram para os meus, desesperados, e como da primeira vez, eu correspondi.
Eu me sentia nova, completamente nova. Todas as dores haviam passado, nada do que havia acontecido me importava agora. Eu só queria Joe o mais perto de mim possível. Suas mãos não estavam mais apenas em minha cintura, exploravam cada pedaço de meu corpo que ele conseguia tocar ou apertar. Eu dei um pulo e prendi minhas pernas em sua cintura, ele desviou os beijos para meu pescoço e meu busto. Ele começou a andar para trás, até que tropeçou no pé da cama e caímos sobre ela. Eu puxava a camisa dele para cima, tentando tirá-la a todo o custo. Joe já havia arrancado minha blusa de frio e tentava fazer o mesmo com minha camisa. Partimos o beijo, receosos, e nos ajudamos a nos despirmos. Nossas roupas voaram pelo quarto, a maior parte minha, uma vez que dele eu só precisaria tirar a camisa e a boxer.
 Joe deitou-me sobre a cama delicadamente, enrolando os dedos em algumas mechas de meu cabelo, posicionado em cima de mim. Meus dedos passeavam pelo seu tórax, fazendo riscos com as unhas. Ele me olhou nos olhos e eu sorri. Havia me esquecido completamente de quem eu era e de onde estava. Só me importava com ele. Aquele anjo que me acariciava. O Aladdin da Bela. Eu comecei a rir de leve quando me lembrei daquele dia, Joe não entendeu, mas me acompanhou nas risadas. Ele voltou a me beijar e eu movia meus quadris para que pudéssemos nos encaixar perfeitamente. Ele segurou firmemente em minha coxa, apertando-a, mordeu meus lábios e então eu o senti começar a me penetrar. Eu agarrei os cabelos do garoto, mantendo-o junto a mim. Joe aumentava seu ritmo aos poucos, eu queria acompanha-lo, me movia junto com ele. Era uma perfeita sincronia, era prazeroso. Era como se estivéssemos ligados espiritualmente, éramos apenas um agora, mas na verdade, sempre havíamos sido.

- Eu... amo... você. – Joe me dizia repetidas vezes, entre um gemido e outro. O que me causava mais arrepios e me fazia tremer compulsivamente.

 Finalmente, em anos, eu conseguia sentir o Joe realmente. O garoto que me fazia delirar, que fazia com que eu sentisse ódio e amor ao mesmo tempo.
 Eu soltei um gemido mais alto, e senti o ápice de meu prazer, Joe me acompanhou. Por alguns segundos, minha visão ficou enegrecida, mas eu via estrelas, e a música de seu piano me atingiu os ouvidos. O garoto caiu suavemente sobre mim, exaustou, mas ainda estávamos conectados. Ele deitou a cabeça sobre meus seios e eu o abracei, mexendo delicadamente em seus cabelos molhados. O quarto estava muito mais escuro do que quando eu havia entrado na casa. Eu olhei pela janela e vi o motivo. O eclipse que eu havia ouvido falar pela manhã estava completo, podíamos ver apenas o contorno suave da lua. A Terra e a Lua eram um quadro perfeito de como eu e Joe estávamos. Juntos, ao mesmo tempo. Com a diferença de que apenas nós dois sabíamos disso, ninguém mais.
 Ele começou a fazer um caminho de beijos, desde meus seios, seguindo pelo meu ombro e pescoço até atingir meus lábios novamente. Eu mal havia recuperado minha respiração e ele já queria me deixar sem ar novamente. Joe separou os lábios dos meus e acariciou meu rosto, dando um beijo na ponta de meu nariz.

- Prometa que dirá não. – ele me disse subitamente, eu o olhei confusa. – Para meu irmão. Prometa que dirá que não aceita.

Eu senti meu estomago colar em minhas costas. Kevin. Como eu podia ter me esquecido dele? Estar com Joe me deixava tão bem que eu nem me lembrei que estava namorando com seu irmão ou que ele me pediria em casamento no dia seguinte. Mas eu já sabia o que fazer. Dei um beijo na testa do meu garoto e fiz com que ele se deitasse novamente.

- Esqueça isso. Tudo vai terminar bem. Eu prometo. – eu murmurei para ele.

Eu fiquei um bom tempo observando aquele eclipse, que parecia ser longo demais. Por fim, eu ouvi Joe começar a ressonar baixo, tranquilamente. Eu fechei meus olhos lentamente e peguei no sono logo em seguida.

PoP - Capítulo IV

“ You open your eyes
But you can't remember what for
The snow falls quietly
You just can't feel it no more ”

Olhei para a Lua. Metade dela já estava ficando escura, a outra insistia em tentar brilhar. Eu olhava para baixo, mas era tudo escuro demais, o penhasco parecia ser mais fundo do que eu achava. Estava ficando frio, eu já estava arrepiada e esfregava as palmas das mãos em meus braços para me esquentar. Joe nunca me deixava ficar com frio, nunca mesmo. Não consegui mais conter as lágrimas e chorei. Chorei como eu estava chorando há semanas. Minhas feridas se arregaçaram naquele momento, sangrando. Maldito eclipse! Maldito piano! O piano não me atormentava mais, contudo, o eclipse ainda estava ali, vivo, completamente vivo, forçando minha mente a me lembrar do que eu não queria. Mas, evitar lembrar de tudo era quase tão impossível quanto esquecer de Joe Jonas.

# CAPÍTULO 4 – Seis meses atrás

Sair com Joe estava sendo um desafio, afinal, não podíamos ser vistos, Joe dizia que era para me preservar. Mas sim, éramos... Algo como namorados, mesmo que ele nunca tenha usado essa palavra, mas éramos. Com a diferença que eu não podia sair sozinha com ele, então ou fazíamos alguma coisa na casa dele ou na minha, ou saíamos os cinco e eu e Wendy éramos apenas as melhores amigas dos Jonas Brothers.
 Naquela noite, Joe tinha saído com Nick e Wendy, para acobertar o romance dos dois, e eu fiquei em casa com Kevin e seus pais. Eu estava me divertindo, me sentia muito criança com Kevin por perto. Estávamos vendo TV e apareceu a chamada da entrevista deles daquela tarde. Kevin ficou sério de repente, o que eu estranhei. Ele tirou o controle das minhas mãos e mudou de canal.

- Acho melhor você não assistir essa, Alana. – seu tom sério estava me preocupando.
- Mas eu quero ver vocês, qual o problema?
- Nenhuma. Mas o Pernalonga vai ser mais interessante. – eu podia ver que Kevin estava mentindo, e ele nunca mentia, o que me deixou mais preocupada e curiosa.
- Tudo bem, então, que tal você ir buscar uns lanches e pipocas para nós? Estou com fome.

 Kevin, inocente como sempre, sorriu satisfeito e saiu da sala. Rapidamente, eu peguei o controle da televisão e abaixei o volume, voltando para o canal da entrevista.
 Lá estavam os três. Joe no meio, vestindo um terno bege. Parecia tão confortável. A mulher que os entrevistava tinha um ar... Estranho. Como se quisesse pregar uma peça neles. Eu me aproximei da TV para ouvir a entrevista direito.

“Então meninos, estão solteiros?” eu ouvi a mulher perguntar. Eu já sabia a resposta, a mesma que eles sempre davam. “Sim, estamos. Todos nós.” Eu não disse que sabia? “Mas eu estou procurando alguém. É ruim ficar sozinho.” Eu franzi o cenho quando ouvi a voz de Joe. Isso era algum golpe de publicidade ou o que? “Sério, Joe? E você está de olho em alguma estrela, ou prefere uma das suas amigas de infância?” Mas, que tipo de pergunta maldita era aquela? Será que estavam suspeitando de alguma coisa? “Bem, eu acho a Camille Belle muito bonita. Seria fantástico trocar umas ideias com ela.” Eu gelei. Afinal, que palhaçada era aquela? “A Camille? Oras Joe, temos uma pequena surpresa para você então. Na verdade, um desafio.” Eu olhei para a tela. Kevin estava com os punhos cerrados, Nick mordia o canto inferior dos lábios e fuzilava Joe com o olhar. Mas Joe estava completamente relaxado, parecia nem se importar com o desconforto dos irmãos. “Tudo bem, o que quiserem.” Ele apoiou as mãos na nuca e reclinou-se na poltrona, completamente confortável.
 E então ela apareceu no estúdio. Camille Belle. Um vestido verde musgo que mal tapava a bunda e um decote que quase chegava ao umbigo entrou em cena, acenando para o público, sorridente. Joe continuava calmo, Nick e Kevin mais desconfortáveis a cada momento. Camille caminhou até o meu namorado e lhe deu um beijo no rosto. Contudo, detalhe: quando eu digo rosto, quero dizer perto dos lábios. Dos meus lábios. Joe sorriu de uma forma marota e a cumprimentou também. “Seja bem vinda, Camille. Bem Joe, o desafio então é o seguinte: dar um beijo de três minutos em Camille.” Ai sim eu fiquei mais gelada, comecei a tremer. Ele não iria aceitar, era óbvio que não iria fazer isso, ainda mais em rede nacional. “Só isso? Pensei que fosse algo mais difícil” E ele levantou-se e agarrou a garota, beijando-a. Eu dei um soco na televisão quando percebi o que estava acontecendo. Claro, era por isso que Joe estava diferente comigo. Era por isso que ele não me chamou para ir com Nick e Wendy. Por isso ele não tinha me beijado direito naquele dia. Eu continuei socando a televisão e segurei meus gritos, contudo, segurar as lágrimas era impossível. Quando me senti dois fortes braços me abraçarem e me puxarem para longe da TV. Escondi o rosto no peito de Kevin e continuei chorando, soluçando. Ele murmurava alguma coisa que eu não conseguia entender, acariciava meus cabelos e beijava minha testa. Eu me sentia uma criança sendo acalmada pelos pais.

- Alana, eu te pedi para não assistir... – ele me lembrou, eu mordi meu lábio e voltei a chorar.
- Eu sei, eu... – eu solucei – Desculpe, Kev... Eu... Ele... – eu senti a raiva aflorar em mim e apertei minhas unhas nos braços do garoto, inconscientemente, claro. – Eu o odeio!

 Kevin havia ficado assustado, eu sabia disso. Mas essa era a verdade. Joe não me assumia publicamente, mas beijar uma garota que ele mal conhecia, isso ele podia? Eu queria feri-lo, igual como ele havia feito comigo. Algo interno, que tocasse aquele coração de pedra dele. Ele dizia que me amava, mas nunca havia dado nenhuma prova disso. Estava claro que Joe não sabia o que era amor. Alguém precisava ensinar isso a ele. E quem melhor do que eu para isso? Mas obviamente, eu jamais iria ensiná-lo da forma doce. Seria dolorido.
 Eu fitei os olhos de Kevin, mesmo que eu não enxergasse muita coisa por conta das lágrimas, mas os olhos verdes de meu ex-cunhado eram mais bonitos do que eu sabia. Eu levei minhas mãos ao seu pescoço e o puxei para mais perto de mim, levando meus lábios aos dele. Beijar Kevin jamais seria a mesma coisa que beijar Joe. Por mais que eu o amasse, não era o mesmo tipo de amor. Eram distintos, e muito distintos. Mas se isso fosse ferir Joe, eu estava disposta.

Ouvi a porta da sala abrir-se, mas não parei o beijo. Eu sabia quem estava chegando e queria que ele visse aquela cena, da mesma forma que eu e todo o mundo vimos o beijo dele. Só quando a porta fechou-se novamente foi que eu parei o beijo, de uma forma lenta e bem dolorosa. Eu virei o rosto vagarosamente para a porta, sorrindo. Três rostos nos encaravam perplexos. Nick e Wendy tinham o queixo caído. Joe tinha a expressão fechada, raivosa, como se dissesse “Não mato vocês porque não posso.”.

- O que. – ele pausou e respirou fundo – Foi isso?

Kevin negou com a cabeça, os olhos arregalados de surpresa. Eu me levantei do chão, tentando ao máximo manter a calma, não tremer, não gritar, não chorar. Eu caminhei até Joe e o fitei. Minha vontade era de estrangulá-lo, mas seria muito fácil e rápido. Eu queria que doesse, que doesse demais.

- Acabou. – eu disse, a voz o mais calmo que eu conseguia – Não tenho motivos para amar você. Você não é nada, não é ninguém. – eu comecei a balançar a cabeça lentamente de forma negativa, tentando enfatizar minhas palavras com esse gesto - Pensa que tem todo o mundo aos seus pés quando bem desejar, que pode fazer o que achar certo, sem se importar se isso irá machucar alguém. – eu sorri em deboche – Eu tenho uma surpresa, Joseph. Você é insignificante. O mundo não te idolatra como você pensa. Eu não te idolatro como você pensa. E eu não quero mais você.

Eu não colocava minha mão no fogo, mas tinha quase certeza que nenhuma garota tinha dito a frase “Eu não quero mais você” para Joe. Era fácil de deduzir isso pela expressão de choque que ele fez. Eu passei por ele, por Nick e pela Wendy sem dizer mais nada. Abri a porta e olhei para trás, para Kevin. Dizer aquilo iria me machucar, mas era necessário.

- Me ligue quando puder, Kev. – e só então eu deixei a casa.

Eu caminhei com passos leves até a esquina, mas assim que eu mudei de rua comecei a correr para casa. Correr realmente rápido, sem olhar para nada, para ninguém. Pouco me importava os carros, as pessoas, os postes. Eu queria meu quarto, minha cama. Não queria pensar em como Joe poderia estar, não era o certo agora. Mas, em meio a tantas coisas, eu conseguia ter apenas um pensamento. “Talvez um coração partido seja bom para ele. Irá lembrá-lo que tem um, mesmo que não bata.”

PoP - Capítulo III

“ I scream into the night for you
Don't make it true
Don't jump
The lights will not guide you through
They're deceiving you
Don't jump
Don't let memories go
Of me and you
The world is down there
Out of view
Please don't jump ”

E aquele som de piano continuava batendo em meus ouvidos. Eu me endireitei, olhei para frente. Eu estava parada quase a beira de um penhasco. Eu senti duas pequenas lágrimas brotarem, mas as contive. Penhascos. Ótimo, Alana. Eu me sentei à beira dele, os pés balançando ao ar.  Quando percebi, estava cantarolando a maldita canção. Começava a ficar mais escuro, só então percebi que o eclipse havia começado. Realmente, aquela não era minha noite de sorte. Piano. Baile. Eclipse. Penhasco. Nada me ajudava. Eu tapei meus ouvidos com força e mordi minha língua, o gosto de sangue impregnou-se em minha boca. Mas aquela música não parava. Não parava.

# CAPÍTULO 3 – Seis anos atrás

O vento gelado batia em meu rosto violentamente e me fazia tremer de frio. Eu devia ter pegado uma blusa mais grossa, mas claro, eu não contava que fosse nevar tão subitamente. Eu sentia raiva de mim mesma. Há um mês que Joe e eu nem nos olhávamos na cara, não saíamos em grupo, nos ignorávamos e eu sentia ódio dele e de mim. Mais uma vez havíamos brigado por tolice. Desta vez foi porque Joe era um irresponsável. Dia de apresentação do trabalho de História, a maior parte com ele, e o garoto simplesmente falta sem nem avisar. Liguei como louca para ele, mas Joe não atendeu ao telefone. Em minha última tentativa, ele finalmente me atendeu, assim que ouvi sua voz eu descontei toda a minha raiva nele, xingando-o de tudo o que eu consegui lembrar. E ele simplesmente desligou o telefone na minha cara e não me atendeu mais.
 Contudo, eu sentia muita falta dele. Falta demais, me machucava entrar na sala de aula, ignorá-lo e ser ignorada. Eu sentia falta da risada convencida dele, das brincadeiras, do abraço acolhedor, de tê-lo como meu porto seguro.
 E mais uma vez em todos esses anos, eu estava desistindo de meu orgulho doloroso, mesmo quando estava certa, apenas para tê-lo comigo novamente.
 Eu sentia o gelo sob meus pés, as barras de minhas calças encharcadas, minhas mãos frias e duras como gelo, meus dentes batiam violentamente e eu mal conseguia ficar com os olhos abertos.
 Por fim, eu cheguei ao portão de sua casa, agora eu só esperava que ele estivesse lá. Toquei a campainha e esperei tremendo, só não sabia se de frio ou de nervoso. Até que alguém abriu o portão e para minha sorte era ele, usando um grosso suéter azul escuro de lã com um grande “J” branco no centro. Assim que ele apareceu, me joguei em um abraço nele, o que pareceu deixa-lo mais surpreso do que eu surgir do nada.

- M-m-me... D-de-d-desc... Des-d-de... – eu tentei dizer, mas o queixo batendo não ajudava muito.
- Alana? O que fa... – ele se separou de mim, me segurando pelos ombros e fixando o olhar em meu rosto – Oh meu Deus! Você está mais branca que gelo. – ele segurou em minhas mãos – E mais gelada também. Anda, vamos entrar.
- E-e-e... V-vi-vi...
- Não importa para que veio, tem que sair desse frio.

Ele me abraçou pelos ombros e me conduziu para dentro da casa que eu conhecia tão bem. A sala com três paredes brancas e uma laranja com textura, o sofá de couro branco acompanhava a parede fazendo um “L”, a estante tabaco cheia de porta-retratos, o piano de armário cor de mel no outro canto da sala, quase perto da lareira. A cozinha toda branca com uma bancada de mármore no meio e uma mesa oval. Ele me levou para seu quarto (que dividia com Kevin) e me colocou sentada em uma das duas camas, enrolando um grosso cobertor em mim.

- Você precisa de roupas mais grossas... E um banho quente também. – ele estava ajoelhado no chão, esfregando as mãos em meus braços por cima do cobertor para me aquecer.
- Es-e-est-est... tou b-be... bem. – eu ainda estava tremendo.

Ele revirou os olhos e se levantou, indo até o guarda-roupas. Joe tirou uma calça de moletom preta, uma camisa grande estampada com um Coringa e uma grossa blusa vermelha de touca. Ele colocou tudo ao meu lado e pegou uma toalha, colocando-a junto com as roupas.

- Quero que troque de roupa, as suas estão úmidas, vai ficar doente. – ele caminhou até a porta e parou quando segurou na maçaneta – Tem uma toalha, sabe onde fica o banheiro. A água está bem quente, se quer saber.

- J-Jo... Joe...
- Eu estarei na cozinha, preparando um chocolate quente. Desça quando estiver trocada.

E ele saiu, deixando-me com suas paredes lotadas de pôsteres e assinaturas dos amigos. Eu me lembrava de quando assinei meu nome naquela parede. Wendy estava junto também. Eu subi nos ombros de Kevin para assinar no teto e Wendy nos ombros de Nick para assinar mais alto que conseguisse (o que seria ironia com o tamanho que a garota tinha). Eu olhei para o teto a procura de meu nome. Não foi difícil encontrá-lo, era o único naquele lugar.  Logo no alto, perto do canto, um tanto afastado dos outros, em letras grandes e pretas estava escrito “Alana” e logo embaixo, uma pequena mensagem minha, “Forever with you. I promise”. Eu sorri de canto quando li aquilo. É, eu havia prometido, até registrado bem diante os olhos dele. Quando percebi, havia parado de tremer. Troquei de roupa, as calças um tanto largas para mim. Na verdade, bem largas. Joe Jonas tinha mais bunda do que eu ou eu estava viajando? Bem, ele era um homem. Tudo ele era maior do que em mim, então claro que ficariam grandes. Eu enrolei o cobertor em mim e desci as escadas, segurando as calças. Segui o cheiro convidativo de chocolate quente e encontrei Joe usando o avental branco com uma flor rosa no peito de Denise. Assim nos vimos, começamos a rir um do outro. Alto, ecoando pela casa. Às gargalhadas, Joe caminhou até mim e me abraçou. Eu fechei os olhos e suspirei aliviada, como se todos os machucados que surgiam a cada dia que se passava longe dele se curassem naquele abraço.

- Ficaram largas, não é? – ele ainda me abraçava e ria.
- Só um pouquinho. – eu sorri de cato.

 Joe tirou um pedaço de elástico de dentro de uma das gavetas e amarrou em minha cintura, como um cinto, só que mais confortável.
 Ele me entregou uma grande caneca de chocolate quente e pedacinhos de marshmallows. Joe me guiou até a sala e me colocou sentado no sofá, ele caminhou até o piano, colocou sua caneca sobre ele e sentou-se no banquinho, soltando algumas notas. Eu tomei outro gole do chocolate e me aconcheguei no cobertor.

- Joe – ele continuou tocando, mas virou, parcialmente, o rosto para mim – Joe. Desculpe-me.
- Esqueça isso, Alana. – ele virou o rosto em minha direção e piscou um olho. – Apenas escute a música.

 Eu tomei outro gole, completamente aliviada. Eu sabia que tudo voltaria ao normal, minhas feridas pareciam nunca terem existido. E eu apenas precisava ouvir a música.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

PoP - Capítulo II

“ The eyes of the city
Are counting the tears falling down
Each one a promise of everything
You never found ”

Eu não poderia ficar por muito mais tempo ali. As lembranças já estavam me invadindo, me deixando tão enjoada quanto a música lenta que começava a tocar. E o que me deixava mais enjoada ainda? Era som de piano. Tão leve quanto quando ele tocava para mim. Suave aos meus ouvidos, mas marteladas violentas em meu peito. Joe sempre tocava piano quando brigávamos. Mesmo que fosse Nick o melhor pianista, Joe tinha algo que fazia meu estomago colar nas costas quando eu o ouvia tocar. E era desta forma que nossas brigas eram resolvidas.
E era o mesmo som de piano que me deixava enjoada. Eu precisava fugir daquilo. Eu saltei a muretinha da varanda e senti a grama fofa debaixo de minhas sandálias. Eu tentei correr para longe daquela casa, longe daquele som, mas, mesmo que eu ficasse longe o suficiente, eu continuaria ouvindo-o, e agora não era mais o som do piano daquela música. Era Joseph tocando.
Eu parei de correr e apoiei as mãos em meus joelhos, o vestido começando a ficar pesado. Só então eu fiz uma pequena ligação idiota com o vestido que eu usava agora e um que usei há alguns anos atrás. Quando todo o tormento começou.

# CAPÍTULO 2 – Cinco anos atrás

O som das risadas entupia meus ouvidos. O garoto ao meu lado gargalhava alto, os cabelos molhados grudados na testa, as maçãs do rosto levemente coradas pelas risadas. Seus irmãos estavam em um estado igual e a garota a minha frente parecia prestes à vomitar.

- Eu te disse para não comer aquele hambúrguer, Wendy! – o garoto ao eu lado, Joe, retomou a conversa da hora do lanche.
- Joseph... – a loira soluçou – Não começa, okay? – e ela soluçou novamente.
- Kevin, aposto cinco dólares que ela vai vomitar. – Joe cutucou seu irmão mais velho, que balançou a cabeça negativamente.
- A Wen é durona, ela aguenta. – ele a defendeu, dando tapinhas nas costas de Wendy.

Eu abri a boca para falar com Wendy, mas nosso barquinho despencou rio abaixo com tamanha velocidade que eu segurei firmemente nas orelhas do Mickey. E as risadas recomeçaram, exceto Wendy e Nicholas, já que a garota escondia o rosto no peito do namorado e este tinha uma expressão preocupada no rosto.
 O barquinho-Mickey chocou-se com um trajeto plano de novo, jogando água para cima e nos deixando mais encharcados ainda. A velocidade do barquinho estava diminuindo e finalmente chegamos ao final do trajeto. Descemos do barquinho, Wendy ainda apoiada em Nick, o rosto menos verde que antes. Joe estava eufórico pelo passeio no brinquedo e torcia a barra da camisa para tirar a água, assim como todos nós.

- Agora podemos ir naquela montanha russa do Gênio... E depois no Safári do Rei Leão... – ele dizia mais animado do que uma criança.
- Claro, podemos ir a todos – concordava Kevin com a cabeça – Mas primeiro, pague meus cinco dólares.

Ele estava certo, o passeio havia acabado e Wendy não vomitara. Joe arregalou os olhos surpreso, como se não soubesse do que o irmão falava.

- E eu por quê?
- Joe, você apostou que Wen iria vomitar. – intercedeu Nick, abraçando a garota pelos ombros, que olhava Joe com ar de deboche – E ela não colocou nem uma gota só para fora. – Nick até tentava esconder, mas havia um tom de orgulho em sua voz.

Falando em orgulho, Joseph Adam Jonas era o orgulho em pessoa. Eu duvidava que ele iria pagar Kevin, era o mesmo que admitir que ele estava errado. E eu o conhecia a tempo o suficiente (tipo, doze anos, sabe?) para ter certeza que Joe nunca assumia estar errado. E agora não seria diferente. Mas o orgulho de Nick era diferente, era orgulho de outra pessoa. Com Joe nunca foi assim. Sempre ele, ele e apenas ele.

- Vamos Joe. Pague o Kev e vamos continuar o passeio. – eu o apressei, impaciente.
- Exatamente. Continuar nosso passeio. Ainda não terminamos. E eu não disse que Wendy iria vomitar especificamente naquele brinquedo. Apenas disse que ela iria vomitar. E como ainda não fomos para o hotel, então eu não perdi. – ele dizia em tom pomposo, o que me irritava profundamente. Todos nós giramos os olhos, e Joe sorriu vitorioso. Ele já sabia que sempre que fazíamos isso, significava que havíamos desistido de discutir. – Agora vamos logo, não quero pegar fila.

Nisso ele estava certo, a Disney ficava cheia no Ano Novo, então tínhamos que correr para não pegar uma fila monstruosa.
Quase vinte minutos depois de entrarmos naquela fila, já era nossa vez. O trem da montanha russa era dividido em seis carrinhos azuis, o primeiro tinha o rosto do Gênio do Aladdin e o último era mais alongado, como se fosse aquela “cauda” dele, cada carrinho tinha cinco lugares, dois na frente e três atrás, o que dava ao carrinho uma forma levemente triangular. Sentei com Kevin nos dois lugares da frente do primeiro carrinho (de tanto Joe insistir para que pegássemos a cabeça do Gênio) e Nick, Wen e Joe se acomodaram nos bancos de trás, Wen no meio dos dois garotos.

- Isso não vai acabar bem... – Kevin murmurou para mim.
- Eu tenho essa impressão também.

E então, com um solavanco, o trem começou a mover-se, subindo logo em seguida. Quanto mais alto ficávamos, mais eu conseguia ver do parque. Eu podia ver claramente o Castelo da Cinderela, o Safári do Rei Leão, o Port Royal de Piratas do Caribe e quando eu estava quase identificando o que parecia ser a Terra do Nunca, o carrinho despencou e eu gritei desesperadamente, seguida por todos do brinquedo, como uma “onda”. Kevin mantinha os braços levantados, enquanto eu me agarrava à trava de segurança. O trem descia rápido por uma espécie de saca-rolhas, rodando, rodando e rodando, até atingir o trilho plano novamente e subir mais uma vez.

- Anda Wen, solte os braços. – Joe disse entre gargalhadas.
- Deixa ela em paz, Joe.
- Fica quieto, Nick. Seu braço tá quase sangrando de tanto ela te apertar.
- E daí? Não tá doendo.
- Sei, o Nick nunca sente dor, não é mesmo? – Joe debochou.
- Chega Joe. Não vou bancar a idiota e levantar os braços assim só por...

E despencamos novamente, o grito de Wendy mais alto desta vez, assim como as gargalhadas de Joe e o urro de dor de Nick, eu nem precisava olhar para trás, pois sabia que Joe tinha enganado a loira.
 Passamos pelo looping e eu vi um flash forte. Ninguém havia me avisado que tinha câmera no brinquedo, mas eu iria querer aquela foto.
 O brinquedo diminuiu a velocidade e parou na estação novamente, finalizando o percurso. Wen foi a primeira a descer de nosso carrinho, passando por cima de Joe e sentando-se ao lado da catraca, o rosto completamente pálido, parecia até tremer. Nick foi ao encontro dela, a cara emburrada para o irmão e o braço esquerdo marcado por quatro vergões enormes. Eu dei um soco no braço de Joe.

- AI! Que foi agora Alana? – ele reclamava enquanto massageava o braço.
- Você, seu tapado. – eu revirei os olhos e o soquei novamente, ele se encolheu – Sai do pé da Wendy, que saco!
- Mas eu não fiz nada agora.
- Mentiroso! – eu o cutuquei no peito – Você sabe muito bem que a Wen vomita quando fica muito assustada e com certeza, passar em um looping com os braços levantados iria assustá-la.
- Você quem está dizendo isso. – ele segurou minha mão, um sorriso de culpa contido no canto dos lábios – Não eu. Eu só queria que ela sentisse mais adrenalina.
- Quando eu quiser mais adrenalina – Wendy disse, a voz meio fraca, mas irritada, ainda sentada no chão, abraçando as pernas com a cabeça entre os joelhos. – Eu faço questão de te avisar. Caso contrário, não se intrometa!

Joe voltou a rir. Nick ajudou Wendy a levantar-se, olhando feio para o irmão. Eu revirei os olhos para Joe e comecei a caminhar com Nick e Wen, Kevin e o Joebabaca nos seguindo. Já estava quase anoitecendo e a festa de virada de ano logo iria começar. Voltamos para o hotel, os garotos entraram em um quarto antes de nós. Eu conhecia os Jonas há doze anos, mas meus pais nunca teriam me deixado fazer essa viagem se dividíssemos quarto com eles. Como o hotel era o Castelo da Cinderela, nosso quarto tinha toda aquela decoração monárquica, o dourado e o vermelho predominavam, do dossel das duas camas descia um véu prata, leve, igual a cama de uma princesa, cheia de almofadas e edredons vermelhos e aveludados. O quarto tinha um formato oval, de frente  para as camas, ficava uma pequena lareira (que já estava acesa) e na outra extremidade do quarto ficavam duas grandes janelas largas e altas, o beiral pintado de branco, cortinas, tão leves quanto o véu das camas e pratas igual, desciam do teto ao chão e estavam abertas, amarradas com fitas de cetim vermelhas. Com certeza, o lugar era um sonho.
 A festa de virada de ano era a fantasia. Qual era a temática? Personagens Disney, claro. Wendy iria fantasiada de Sininho (ironia com seu nome) e Nick, claro, iria de Peter Pan. Eu iria de Bela, minha personagem preferida desde a infância, A Bela e a Fera era um marco para mim.

 Wendy já estava em seu vestidinho verde que tocava quase dois palmos acima de seus joelhos, o que deixava boa parte das pernas da garota aparecendo (e eu tinha que assumir, minha amiga tinha pernas realmente bonitas), um sapatinho verde estilo boneca nos pés. Os cabelos metade presos em um coque e metade soltos, ela nunca prendia o cabelo todo. Ela me ajudava a fechar o vestido, eram tantos botões em minhas costas que eu me perdia. Ela fechou o último botão e eu a ajudei a encaixar as asas de sua fantasia. Calcei minhas sandálias douradas e me olhei no espelho. O vestido era uma réplica quase perfeita do original, com a diferença que o meu não parecia desenhado. Meus cabelos estavam presos em um coque bagunçado, uma mecha de cabelo caía em cada lado de meu rosto fazendo um cachinho. Meus olhos se destacavam pela maquiagem escura.

- Bem, eu acho que estamos p... – Wendy foi interrompida por três batidinhas rápidas na porta – Entre.

E Nick entrou. Usava uma bela fantasia de Peter Pan, até o chapeuzinho com a pena vermelha ele usava. Estava tão lindo que se não fosse o namorado da minha irmã de consideração, eu iria cantá-lo muito naquela noite. Ele sorriu de uma forma muito Peter quando viu Wendy.

- Eu vim ver se estavam prontas... – ele sorriu novamente – Pelo visto...

Wendy riu alto e abraçou o garoto. Eu tinha certeza que eles iriam começar com a melosidade de “Você está linda!; Não, você quem está!; beijobeijobeijo” e eu não queria ser a vela. Disfarçadamente eu saí do quarto e entrei no dos garotos sem nem bater, se Nick estava pronto, os outros também estavam. O quarto deles não era diferente do nosso, exceto pela bagunça dobrada, como caixas de lanches do McDonald’s e roupas largadas ou penduradas em lugares que eu achava impossível, tipo o lustre.
Kevin estava sentado em uma poltrona vermelha perto da lareira. Sua fantasia era a melhor. Ele estava fantasiado de leão, a coisa mais fofa do mundo.

- Hey Bela, não bate mais?
- Desculpe, não sabia que o Rei Mufasa estava na sala. – eu fiz uma reverência e ele riu.
- Alguém acertou sua fantasia, Kevin? – Joe gritou do banheiro.
- Ao menos eu sei o que usar e já estou pronto. – ele revidou, revirando os olhos e arrumando o nariz de gato no rosto.
- Espera, como assim? Ele não tá pronto ainda?
- Não, A moça ali não sabe o que usar. – Kevin apontava para o banheiro.
- Eu ouvi isso. – Joe resmungou.
- Mas ele não comprou uma só fantasia?
- O Joe? Até parece que você não o conhece, Alana. – Kevin revirou os olhos – Foram três fantasias, e agora ele não sabe qual colocar.
- AAAAH Joseph!

Eu caminhei até o banheiro e abri a porta, novamente sem bater.
Joe usava uma boxer preta. Detalhe: apenas a boxer. Eu via claramente cada músculo definido de seu tórax e de seus braços. Por alguns segundos, eu senti meu queixo cair, mas depois comecei a rir da cena: Joe tentava se esconder atrás das roupas e se enfiar dentro do box escuro do banheiro ao mesmo tempo.

- Existe uma coisa chamada “bater”, sabia? – ele reclamava, as bochechas muito vermelhas, e Joe Jonas nunca ficava vermelho.
- Own, ele tá vermelhinho. – eu ironizei, mas que era fofo vê-lo vermelho, isso é verdade.
- Cala a boca Alana! – ele jogou as roupas para mim e enrolou uma toalha na cintura.
- E quais são as fantasias? – eu olhei para as roupas em meus braços tentando identificar alguma – Mickey... Jack Sparrow? – eu disse quando vi o chapéu inconfundível – E... Qual é essa?
- Aladdin. – ele disse, chegando mais perto de mim. Eu quase perdi o fôlego quando o olhei, mas desviei a atenção para outro lugar. Ele pegou a roupa de Aladdin – Que aliás, é o que vou usar.
- A de Jack Sparrow é mais legal. – eu disse enquanto colocava o chapéu de pirata.
- É, mas perto do Peter Pan e da Sininho vou ficar parecendo com o Gancho, só que sem o ganho.
- Tá, e a de Mickey?
- Estamos na Disney. Metade do parque vai vestido de Mickey, não quero ser mais um.

Eu revirei os olhos e deixei as roupas em cima da pia, tirei o chapéu de pirata e coloquei nele, lhe dando as costas em seguida.

- Mas o chapéu tá bonito. – eu disse entre risinhos baixos, antes de sair pela porta.
- Alana. – eu voltei quando ouvi ele me chamar – Aliás, tá muito bonita. – e ele piscou, o que me deixou muito vermelha – Own, ela tá vermelhinha. – ele me imitou, eu revirei os olhos com raiva e voltei para o quarto, deixando o garoto rindo como bobo.

Eu me sentei em uma das camas, Kevin tinha saído do quarto. E eu fiquei esperando a donzela do Joe terminar de se arrumar. Quase meia hora depois, enquanto eu estava mergulhada em meus pensamentos, Joe reapareceu.
A fantasia de Aladdin havia lhe caído bem. As calças brancas e bufantes, os pés descalços, o colete azul aberto sobre o peito e o chapeuzinho meio vermelho, meio roxo, haviam transformado Joe Jonas em um perfeito Aladdin. Joe tinha a pele clara, mas agora ele estava bronzeado de sol, seu cabelo estava grande, tudo contribuía para que ele ficasse idêntico ao personagem do desenho. Aliás, já mencionei que, quando criança, eu tinha uma grande queda pelo Aladdin? Tá, era pelo Eric da Pequena Sereia, mas, desconsiderem.

- Hey? Alana? Alanaaa... – ele cantarolava e estava os dedos na frente do meu rosto, eu sacudi a cabeça como se acordasse, e só então percebi como ele estava perto – Estou tão gato assim que te deixei sem ação? – ele sorriu convencido.
- Na verdade... – eu dei dois passos para trás, disfarçadamente – Eu estava me perguntando se você é gay.

O sorriso dele sumiu como se eu tivesse jogado um balde d’água fria nele, o garoto revirou os olhos e cruzou os braços (o que os deixavam maiores ainda) e me olhando novamente.

- Por que, Alana? – ele perguntou em tom tedioso.
- Você demora mais do que uma garota para se arrumar. – eu apontei para o relógio e para ele – Só pode ser gay.

Com três passos rápidos, Joe se aproximou de mim, me segurando pela cintura. Ele aproximou seu rosto do meu, eu estava completamente paralisada, a única coisa que eu consegui fazer foi fechar meus olhos quando senti os lábios quentes, macios e úmidos de Joe pousarem suavemente sobre os meus. E então ele me beijou, e para minha surpresa, eu retribuía desesperadamente ao beijo. Ele apertou minha cintura de uma forma que me fez arrepiar por inteira. E, tão subitamente quanto começou, acabou.

Eu levei alguns segundos para cair em minha realidade novamente. Joe me olhava com triunfo, ainda segurando minha cintura. Era uma cena engraçada e eu não queria imaginá-la, Aladdin beijando Bela. Isso acabaria com minha infância. Mas ali, naquele momento, Bela e Aladdin faziam total sentido para mim.

- Espero que isso tenha tirado a ideia de gay da sua cabeça. – ele piscou para mim e me deu as costas.

E eu fiquei ali, parada no quarto por um bom tempo. Algumas coisas não faziam sentido algum, como eu corresponder ao beijo daquela forma, ou me arrepiar ao seu toque. Por fim, eu deixei o quarto e desci para o salão do Castelo. Estava tão anestesiada que não percebia direito as coisas, esbarrava nas pessoas e não ouvia a música direito. Só posso dizer que a decoração era branca e prata, mas não posso dizer como ela estava disposta.
Incrivelmente, encontrei Mufasa sentado em uma das mesinhas. Quando ele me viu, puxou a cadeira ao seu lado para mim.

- Achei que algum Fera tinha aparecido e te raptado! – ele disse entre risos e eu comecei a rir também, a me desligar do que tinha acontecido. Kevin tinha esse incrível poder sobre mim.
- E o que eu perdi?
- Pan e Sino estão dançando há quase meia hora, o nível de melosidade o mais alto que você conseguir imaginar. Eu estava guardando nossa mesa. O bolo de chocolate branco é fenomenal. E Aladdin encontrou uma Jasmine e sumiu com ela. – Kevin fez seu relatório aos risos. – Ah, e ele não me pagou.
- Ele nunca vai pagar, sabe disso. – eu balencei a cabeça negativamente, quando me dei conta da última coisa que ele tinha falado.

Joe me dá o melhor beijo da minha vida, me deixa sem reação e depois acaba no baile com outra? Aliás, por que isso me incomodava tanto?

- Hey Alana. Quer dançar?

Eu olhei para Kevin, o garoto estava um tanto vermelho, o que o deixava mais fofo ainda naquela fantasia de leão.

- Own Kev. Claro! – ele sorriu realizado, me ofereceu o braço e me levou até a pista de dança.

Kevin dançava bem e me distraía, me divertia, mas nem Kevin, com seu poder todo especial, conseguia me colocar em órbita novamente. Pelos cantos dos olhos eu procurava um certo Aladdin, e por dentro, eu me faria sempre a mesma pergunta.
O grande relógio do salão deu doze badaladas, todos na festa começaram a gritar, pular e se abraçar. Kevin, sorridente como sempre, me abraçou e me rodopiou.

- Feliz Ano Novo, Alana. – ele me desejou, a voz perto do meu ouvido.

E como mágica, tudo se clareou. O beijo. O toque. A sensação. O ciúme. Eu havia cometido o maior erro de toda a minha vida. Havia me apaixonado por Joseph Adam Jonas. Meu melhor amigo. O cara mais egocêntrico e orgulhoso do mundo. Eu estava ferrada!


- É, eu vou precisar. – eu murmurei para Kevin, sentindo que todo o meu ano seguinte iria precisar ser ajustado.