quinta-feira, 16 de setembro de 2010

TofT - Capítulo III



19:30 - Alex

Eu abri meus olhos e senti minha cabeça latejar. O que havia acontecido? Eu me lembrava de estar tomando chocolate, a vendedora sorrir maliciosamente para mim, de levar uma pancada na cabeça e então mais nada.
Olhei ao redor e imediatamente soube onde eu estava: dentro da Casa. As paredes de pedras cinzentas e lisas formavam um corredor a minha frente, havia poças enormes de tinta vermelho vivo, as paredes estavam marcadas com a tinta também, como se alguém tivesse tentado segurar-se nelas. Eu me levantei, me apoiando na parede. Revirei meus bolsos procurando meu celular, mas ele não estava comigo. Tudo bem, eu estava do outro lado do parque, sem meus amigos, sem meu celular e com monstros em qualquer lugar que eu fosse. Tudo o que eu poderia fazer era procurar a saída daquele lugar e depois procurar um telefone público. é, era esse meu plano.
Eu comecei a correr pelo corredor, meus passos ecoando secamente pela casa. Ao que parecia, eu estava sozinha. O que não era normal em um parque de diversões grande como aquele. Cheguei em um ponto em que o corredor se dividia em três portas. Quando visitamos A Casa mais cedo, Jack havia escolhido a porta do meio, o que nos levou à muitos monstros e todos aqueles efeitos medonhos feitos para nos assustar. Me chamem de medrosa se quiserem, mas eu não queria tomar mais nenhum susto hoje.

Escolhi a primeira porta e entrei em um cômodo luxuoso e iluminado. Era bonito, se não fosse pelo fato de haver um corpo jogado no meio da sala, imerso em uma poça de sangue, os olhos vidrados em mim, mas sem vida.
Eu berrei e a porta atrás de mim fechou-se com uma batida oca. Instantaneamente a luz apagou-se e eu gritei novamente, me apertando contra a porta trancada. Muito legal, justamente o que eu não queria mais naquela noite... Eu estava tendo. Ouvi o riscar de um fósforo e os candelabros da sala se acenderam, mas o cômodo não iluminou-se tanto quanto antes. E de dentro dos armários e debaixo das almofadas dos dois sofás, surgiram quatro monstros de cera, o rosto completamente derretido, desfigurado, mãos queimadas e murchas, cabelos ralos, chamuscados e sujos, as vestes longas, empoeiradas e queimadas em certos pontos. O mais estranho deles usava uma calça laranja, tênis verde limão e camisa preta, o cabelo desbotado e falho era verde também. Ele não combinava com os outros bonecos, mas avançava aos tropeços para mim igual aos outros.
Eu gritava novamente. Do outro lado da sala havia uma porta, mas eu teria que passar por todos os monstros.
 "Imaginem como ela vai ficar quando escurecer e soltarem os monstros..." eu ouvi as palavras de Jack se repetirem em minha cabeça. Eu franzi a testa. Eram pessoas como eu maquiadas e vestidas pagas para assustarem. E estavam realizando o trabalho muito bem, por sinal. Eu apertei os punhos e comecei a correr em direção à porta, empurrando e derrubando os bonecos do meu caminho. Para minha sorte a porta estava destrancada.
 Eu sai em um quarto pequeno com apenas uma cama e um criado mudo. Deitada na cama estava uma garota mais ou menos da minha idade, cabelos loiros brilhantes, pele extremamente pálida e lábios muito vermelhos. Parecia a Rosalie de Twilight, exceto que a garota era extremamente magra. Ela segurava uma vela acesa com as duas mãos, a cera derretida da vela escorria por entre seus dedos, mas a loira não expressava dor. "Claro, é um boneco, Alex!" eu pensei. Havia outra porta no quarto, em frente a cama. Eu tentei girar a maçaneta, estava trancada. Então senti algo quente pingar em minha blusa. Eu me virei e a loira estava de pé atrás de mim, os olhos vermelhos, antes fechados, agora me fitavam arregalados e enevoados.
Eu comecei a gritar desesperadamente, chutando e socando a porta, a loira tentava pingar a cera em qualquer parte descoberta de meu corpo, ou me queimar com a chama da vela (que não importava o quando ela a chacoalha-se, a chama não se apagava). A loira começava a sorrir de forma maldosa para mim, aquela vela pingando cada vez mais, acertando minha blusa de moletom e furando-a com as chamas. Eu soquei a porta com mais força e ouvi alguém destrancá-la do outro lado, eu a abri eufórica e acabei caindo no chão da outra sala, empurrando a porta com os pés, que fechou-se com um "clock". Ótimo, trancada novamente. Agora era só esperar surgir mais bonecos feios. Aquilo estava me cansando. Eu me levantei e olhei ao redor. O chão daquela sala era coberto por uma grossa camada de cera, tinha uma textura estranha, como se o chão fosse partir-se a qualquer momento. Na sala havia um único e enorme baú dourado. Claro, o baú abriu-se e um cara duas vezes maior do que eu, saiu de dentro, empunhando dois facões enormes que o grandalhão fazia dançar em suas mãos, cortando o ar com um zumbido. Eu comecei a correr, mas correr sobre cera era realmente complicado, eu não saía do lugar, praticamente. Já para o cara, era extremamente fácil. Ele andava rápido em minha direção, me ameaçando com os facões. Eu engatinhei até a outra porta, o cara tentou me acertar com o facão, eu rolei para o lado no último segundo, o facão cortou quase dois dedos do meu cabelo quando acertou o chão, abrindo uma rachadura na cera.
Eu me levantei, louca.

- HEY, CARA! - eu gritei para ele, que se aproximava de mim sorrateiramente, a cabeça ligeiramente tombada para o lado - TÁ FICANDO LOUCO?

Ele riu, um som rouco e gelado, morto. Eu me virei de costas e tentei abrir a porta, não estava trancada, mas sim emperrada. Eu chutei a porta com toda a força que eu tinha e ela abriu-se como se fosse mágica. Passei por ela e a chutei novamente, fechando-a. Havia mais uma porta apenas e ela estava totalmente aberta, eu podia ver os jardins por ela. Eu comecei a atravessar rapidamente a sala, mas parei no meio do caminho quando o último monstro apareceu, barrando a porta. Eu podia enfrentar todos os outros, menos aquele.
O boneco tinha oito membros (provavelmente, os dois pares extras de braços eram mecânicos), onde deveria ser a cabeça de um homem, havia a cabeça de uma aranha feita com cera. Eu sentia ânsia, minhas pernas travaram e eu não conseguia parar de tremer. Eu queria gritar o mais alto que eu conseguisse, mas naquele momento, eu era, eu era uma garotinha muda. Aquele "Homem Aranha" avançou para mim, tocando os braços no chão, parecendo mais ainda uma aranha, correndo em minha direção ainda mais rápido. Bem, 17 anos fugindo de aranhas tinha que resultar em algo bom. Automaticamente eu saltei por cima daquela coisa, acertando o meio de suas costas, fazendo com que ele desmorona-se. Saltei novamente, chorando de novo e medo. A porta estava livre enfim, atrás de mim, aquela coisa começava a erguer-se. Eu cheguei aos portões da Casa chorando como um bebê, com os cabelos dois dedos mais curtos e cortados em uma diagonal horrível, as pernas doendo, o moletom cheio de furos e cera grudada, suada e querendo uma cama. Por sorte, encontrei algo melhor.
Um telefone público.

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