terça-feira, 30 de novembro de 2010

PoP - Capítulo III

“ I scream into the night for you
Don't make it true
Don't jump
The lights will not guide you through
They're deceiving you
Don't jump
Don't let memories go
Of me and you
The world is down there
Out of view
Please don't jump ”

E aquele som de piano continuava batendo em meus ouvidos. Eu me endireitei, olhei para frente. Eu estava parada quase a beira de um penhasco. Eu senti duas pequenas lágrimas brotarem, mas as contive. Penhascos. Ótimo, Alana. Eu me sentei à beira dele, os pés balançando ao ar.  Quando percebi, estava cantarolando a maldita canção. Começava a ficar mais escuro, só então percebi que o eclipse havia começado. Realmente, aquela não era minha noite de sorte. Piano. Baile. Eclipse. Penhasco. Nada me ajudava. Eu tapei meus ouvidos com força e mordi minha língua, o gosto de sangue impregnou-se em minha boca. Mas aquela música não parava. Não parava.

# CAPÍTULO 3 – Seis anos atrás

O vento gelado batia em meu rosto violentamente e me fazia tremer de frio. Eu devia ter pegado uma blusa mais grossa, mas claro, eu não contava que fosse nevar tão subitamente. Eu sentia raiva de mim mesma. Há um mês que Joe e eu nem nos olhávamos na cara, não saíamos em grupo, nos ignorávamos e eu sentia ódio dele e de mim. Mais uma vez havíamos brigado por tolice. Desta vez foi porque Joe era um irresponsável. Dia de apresentação do trabalho de História, a maior parte com ele, e o garoto simplesmente falta sem nem avisar. Liguei como louca para ele, mas Joe não atendeu ao telefone. Em minha última tentativa, ele finalmente me atendeu, assim que ouvi sua voz eu descontei toda a minha raiva nele, xingando-o de tudo o que eu consegui lembrar. E ele simplesmente desligou o telefone na minha cara e não me atendeu mais.
 Contudo, eu sentia muita falta dele. Falta demais, me machucava entrar na sala de aula, ignorá-lo e ser ignorada. Eu sentia falta da risada convencida dele, das brincadeiras, do abraço acolhedor, de tê-lo como meu porto seguro.
 E mais uma vez em todos esses anos, eu estava desistindo de meu orgulho doloroso, mesmo quando estava certa, apenas para tê-lo comigo novamente.
 Eu sentia o gelo sob meus pés, as barras de minhas calças encharcadas, minhas mãos frias e duras como gelo, meus dentes batiam violentamente e eu mal conseguia ficar com os olhos abertos.
 Por fim, eu cheguei ao portão de sua casa, agora eu só esperava que ele estivesse lá. Toquei a campainha e esperei tremendo, só não sabia se de frio ou de nervoso. Até que alguém abriu o portão e para minha sorte era ele, usando um grosso suéter azul escuro de lã com um grande “J” branco no centro. Assim que ele apareceu, me joguei em um abraço nele, o que pareceu deixa-lo mais surpreso do que eu surgir do nada.

- M-m-me... D-de-d-desc... Des-d-de... – eu tentei dizer, mas o queixo batendo não ajudava muito.
- Alana? O que fa... – ele se separou de mim, me segurando pelos ombros e fixando o olhar em meu rosto – Oh meu Deus! Você está mais branca que gelo. – ele segurou em minhas mãos – E mais gelada também. Anda, vamos entrar.
- E-e-e... V-vi-vi...
- Não importa para que veio, tem que sair desse frio.

Ele me abraçou pelos ombros e me conduziu para dentro da casa que eu conhecia tão bem. A sala com três paredes brancas e uma laranja com textura, o sofá de couro branco acompanhava a parede fazendo um “L”, a estante tabaco cheia de porta-retratos, o piano de armário cor de mel no outro canto da sala, quase perto da lareira. A cozinha toda branca com uma bancada de mármore no meio e uma mesa oval. Ele me levou para seu quarto (que dividia com Kevin) e me colocou sentada em uma das duas camas, enrolando um grosso cobertor em mim.

- Você precisa de roupas mais grossas... E um banho quente também. – ele estava ajoelhado no chão, esfregando as mãos em meus braços por cima do cobertor para me aquecer.
- Es-e-est-est... tou b-be... bem. – eu ainda estava tremendo.

Ele revirou os olhos e se levantou, indo até o guarda-roupas. Joe tirou uma calça de moletom preta, uma camisa grande estampada com um Coringa e uma grossa blusa vermelha de touca. Ele colocou tudo ao meu lado e pegou uma toalha, colocando-a junto com as roupas.

- Quero que troque de roupa, as suas estão úmidas, vai ficar doente. – ele caminhou até a porta e parou quando segurou na maçaneta – Tem uma toalha, sabe onde fica o banheiro. A água está bem quente, se quer saber.

- J-Jo... Joe...
- Eu estarei na cozinha, preparando um chocolate quente. Desça quando estiver trocada.

E ele saiu, deixando-me com suas paredes lotadas de pôsteres e assinaturas dos amigos. Eu me lembrava de quando assinei meu nome naquela parede. Wendy estava junto também. Eu subi nos ombros de Kevin para assinar no teto e Wendy nos ombros de Nick para assinar mais alto que conseguisse (o que seria ironia com o tamanho que a garota tinha). Eu olhei para o teto a procura de meu nome. Não foi difícil encontrá-lo, era o único naquele lugar.  Logo no alto, perto do canto, um tanto afastado dos outros, em letras grandes e pretas estava escrito “Alana” e logo embaixo, uma pequena mensagem minha, “Forever with you. I promise”. Eu sorri de canto quando li aquilo. É, eu havia prometido, até registrado bem diante os olhos dele. Quando percebi, havia parado de tremer. Troquei de roupa, as calças um tanto largas para mim. Na verdade, bem largas. Joe Jonas tinha mais bunda do que eu ou eu estava viajando? Bem, ele era um homem. Tudo ele era maior do que em mim, então claro que ficariam grandes. Eu enrolei o cobertor em mim e desci as escadas, segurando as calças. Segui o cheiro convidativo de chocolate quente e encontrei Joe usando o avental branco com uma flor rosa no peito de Denise. Assim nos vimos, começamos a rir um do outro. Alto, ecoando pela casa. Às gargalhadas, Joe caminhou até mim e me abraçou. Eu fechei os olhos e suspirei aliviada, como se todos os machucados que surgiam a cada dia que se passava longe dele se curassem naquele abraço.

- Ficaram largas, não é? – ele ainda me abraçava e ria.
- Só um pouquinho. – eu sorri de cato.

 Joe tirou um pedaço de elástico de dentro de uma das gavetas e amarrou em minha cintura, como um cinto, só que mais confortável.
 Ele me entregou uma grande caneca de chocolate quente e pedacinhos de marshmallows. Joe me guiou até a sala e me colocou sentado no sofá, ele caminhou até o piano, colocou sua caneca sobre ele e sentou-se no banquinho, soltando algumas notas. Eu tomei outro gole do chocolate e me aconcheguei no cobertor.

- Joe – ele continuou tocando, mas virou, parcialmente, o rosto para mim – Joe. Desculpe-me.
- Esqueça isso, Alana. – ele virou o rosto em minha direção e piscou um olho. – Apenas escute a música.

 Eu tomei outro gole, completamente aliviada. Eu sabia que tudo voltaria ao normal, minhas feridas pareciam nunca terem existido. E eu apenas precisava ouvir a música.

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