terça-feira, 30 de novembro de 2010

PoP - Capítulo V

“ Somewhere up there
You lost yourself in your pain
You dream of the end
To start all over again ”

Eu me sentia sufocada. Sabia que, assim que o eclipse se completasse, a pior de minhas lembranças iria me invadir. Eu não queria me lembrar daquilo. Era a pior, mas ao mesmo tempo, a que me deixava mais satisfeita. Era incrível como eu ainda conseguia me lembrar do calor exato de sua pele, o sabor de seu beijo, o jeito como os olhos dele brilhavam para mim. Joe me amava, ninguém poderia negar isso. Mas, por que ele havia me machucado? Eu nunca pude descobrir. Por que eu estava sendo tão cruel com ele? Eu sabia a resposta, mas não queria dá-la para ninguém, nem para mim mesma. Eu tinha medo de que, no fundo, eu era um monstro tão orgulhoso quanto ele. Mas a linha de Joe já estava totalmente torta, ele não sabia mais por qual caminho seguir, ele só queria o próprio final, saber o que esperava por ele. Minha linha sempre havia sido reta, decidida, direta. Joe a desviou quando me beijou pela primeira vez. Desde então eu não consegui colocá-la de volta no lugar.

# CAPÍTULO 5 – Quatro meses atrás

Namorar com Kevin estava sendo muito mais fácil do que fingir um namoro com Joe. O mundo sabia que Kevin e eu estávamos juntos. Eu sorria, eu cantava, eu podia sair com meu namorado, podia beijá-lo onde eu quisesse que não haveria problema algum. Parecia perfeito para todo mundo. Mas claro, para mim não.

Meus planos de fazer o coração parado de Joseph bater não pareciam dar resultados. Assim como eu tentar fingir ter algum orgulho não era algo fácil. Não era natural, e ele sabia disso. Não nos falávamos mais. Nem comíamos na mesma mesa. Se ele entrava, eu saía. Se eu falava, ele dava as costas. Era um clima pesado, mas os outros tentavam deixá-lo mais ameno. Não estavam obtendo sucesso, mas nós dois ao menos fingíamos que tudo estava bem perto de nossos pais.
 Eu estava indo para a casa dos Jonas fazer uma surpresa para Kevin. Eu tinha planejado fazer um bolo e brigadeiro com ele. Denise havia me dado uma cópia da chave da casa deles. Eu entrei normalmente, estranhando a casa silenciosa. Eu tinha certeza que ao menos Kevin estaria em casa. Talvez ele estivesse dormindo. Comecei a subir as escadas e ouvi o som do chuveiro ligado. Ele estava no banho, eu iria aguardá-lo no quarto, quietinha, para assustá-lo.  Eu me escondi atrás da porta e ali fiquei. Uns cinco ou dez minutos depois, ouvi a porta do banheiro abrir-se, os passos vagarosos de Kevin vindo em direção ao quarto. E assim que eu vi a toalha branca passar pela porta, eu pulei em suas costas. Mesmo assustado, ele me segurou, mas havia algo de diferente nele.

- Surpresa, amor! – eu lhe dei um beijo estalado na orelha.
- É, eu estou surpreso, Alana. – não era Kevin. Era Joe.

Eu me soltei dele rapidamente, atônita e envergonhada. Contudo, precisava manter a calma e a postura. Só então reparei em como Joe estava. Apenas de boxer novamente, como há alguns anos atrás. Me esforcei para não ficar corada. Ele agia com naturalidade, esfregando a toalha nos cabelos molhados.

- Onde estão todos? – perguntei da forma mais seca que consegui.
- O seu namorado não te contou? Que pena. – ele me deu as costas para pegar alguma coisa dentro do guarda-roupas.
- Onde, Joseph? – exigi novamente, me aproximando dele e tentando parecer ameaçadora.
- Que é? Acha que eu os matei, é Wendy? Não enche. – ele pegou uma camisa, a mesma que ele havia me emprestado anos atrás, a do Coringa, e vestiu – Mas tudo bem, se eu te disser você vai embora mais rápido. – ele me encarou novamente – Mamãe, papai, Nick e o seu namoradinho foram para Los Angeles comprar alianças de noivado para você e Wendy. – sua voz era áspera, como se aquela fosse a pior notícia do mundo. E era. Kevin iria me pedir em casamento. O que poderia ser pior do que isso? – Eles voltam só amanhã a noite. Agora pode ir embora.

Eu estava estática. Paralisada. Não conseguiria dizer não para Kevin, mas também não conseguiria me casar com ele. Isso jamais! Afinal, que tipo de monstro eu era? No que eu havia me transformado? Kevin era a pessoa mais doce, amável e... Boa do mundo. O que eu estava fazendo com ele? Eu queria machucar Joe, não Kevin. Por que eu havia metido Kevin nisso?
Joe continuava me encarando nervoso, vestindo apenas a camisa. Eu não havia movido um só músculo, mas sentia que estava a ponto de chorar. Eu dei as costas e ameacei sair do quarto. Já estava fora dele quando senti Joe segurar em meu braço.

- Antes de ir embora e ficar noiva de meu irmão, pode me responder uma coisa? – o tom áspero não existia mais. Agora eu estava ouvindo o tom de voz que há anos eu esperava ansiosamente para ouvir. Suplicante, doloroso. Era a voz que eu queria atingir, mas eu não sabia os efeitos que ela teria sobre mim. Eu voltei a encará-lo, e apenas concordei com a cabeça. – Você me ama?

A Terra moveu-se de uma forma estranha, como se ela tivesse feito um giro ao contrário. Não era como se estivéssemos avançando no tempo, e sim voltando. Eu tive que procurar um relógio pelo quarto para ter certeza de que não era isso mesmo, mas cheguei à conclusão que Kevin e Joe odiavam despertadores. Ele continuava me olhando, eu me perdi em seu brilho. O brilho que eu queria. Joe estava sofrendo com tudo aquilo. Eu havia conseguido. Mas, o que eu ganharia com isso? Não poderia dizer que o amava, terminar com Kevin, machuca-lo e voltar com Joe. Eu havia feito uma grande bola de neve, essa era a verdade. Eu estava tão presa que não tinha mais solução.

- Me responde, Alana. – ele aproximou mais o rosto do meu, o hálito quente de menta tocando meu rosto. Eu senti alguma nostalgia naquele momento, como se tivesse ficado dopada. – Você me ama?
- Amo. – pronto. Eu havia acabado de assinar minha sentença de morte. Todos os meus planos, todo o trabalho que eu tive para fazer o coração de Joe bater haviam sido jogados fora. Apenas as minhas feridas que não pareciam ir embora junto com isso. Pelo contrário, eu estava abrindo mais uma. Eu, e apenas eu. Não Joe, não Kevin. Mas eu. Eu mesma estava me machucando. Eu era uma grande masoquista, essa era a verdade.

Então senti as mãos quentes de Joe tocarem minha cintura e me puxarem para si mesmo. Os lábios dele voaram para os meus, desesperados, e como da primeira vez, eu correspondi.
Eu me sentia nova, completamente nova. Todas as dores haviam passado, nada do que havia acontecido me importava agora. Eu só queria Joe o mais perto de mim possível. Suas mãos não estavam mais apenas em minha cintura, exploravam cada pedaço de meu corpo que ele conseguia tocar ou apertar. Eu dei um pulo e prendi minhas pernas em sua cintura, ele desviou os beijos para meu pescoço e meu busto. Ele começou a andar para trás, até que tropeçou no pé da cama e caímos sobre ela. Eu puxava a camisa dele para cima, tentando tirá-la a todo o custo. Joe já havia arrancado minha blusa de frio e tentava fazer o mesmo com minha camisa. Partimos o beijo, receosos, e nos ajudamos a nos despirmos. Nossas roupas voaram pelo quarto, a maior parte minha, uma vez que dele eu só precisaria tirar a camisa e a boxer.
 Joe deitou-me sobre a cama delicadamente, enrolando os dedos em algumas mechas de meu cabelo, posicionado em cima de mim. Meus dedos passeavam pelo seu tórax, fazendo riscos com as unhas. Ele me olhou nos olhos e eu sorri. Havia me esquecido completamente de quem eu era e de onde estava. Só me importava com ele. Aquele anjo que me acariciava. O Aladdin da Bela. Eu comecei a rir de leve quando me lembrei daquele dia, Joe não entendeu, mas me acompanhou nas risadas. Ele voltou a me beijar e eu movia meus quadris para que pudéssemos nos encaixar perfeitamente. Ele segurou firmemente em minha coxa, apertando-a, mordeu meus lábios e então eu o senti começar a me penetrar. Eu agarrei os cabelos do garoto, mantendo-o junto a mim. Joe aumentava seu ritmo aos poucos, eu queria acompanha-lo, me movia junto com ele. Era uma perfeita sincronia, era prazeroso. Era como se estivéssemos ligados espiritualmente, éramos apenas um agora, mas na verdade, sempre havíamos sido.

- Eu... amo... você. – Joe me dizia repetidas vezes, entre um gemido e outro. O que me causava mais arrepios e me fazia tremer compulsivamente.

 Finalmente, em anos, eu conseguia sentir o Joe realmente. O garoto que me fazia delirar, que fazia com que eu sentisse ódio e amor ao mesmo tempo.
 Eu soltei um gemido mais alto, e senti o ápice de meu prazer, Joe me acompanhou. Por alguns segundos, minha visão ficou enegrecida, mas eu via estrelas, e a música de seu piano me atingiu os ouvidos. O garoto caiu suavemente sobre mim, exaustou, mas ainda estávamos conectados. Ele deitou a cabeça sobre meus seios e eu o abracei, mexendo delicadamente em seus cabelos molhados. O quarto estava muito mais escuro do que quando eu havia entrado na casa. Eu olhei pela janela e vi o motivo. O eclipse que eu havia ouvido falar pela manhã estava completo, podíamos ver apenas o contorno suave da lua. A Terra e a Lua eram um quadro perfeito de como eu e Joe estávamos. Juntos, ao mesmo tempo. Com a diferença de que apenas nós dois sabíamos disso, ninguém mais.
 Ele começou a fazer um caminho de beijos, desde meus seios, seguindo pelo meu ombro e pescoço até atingir meus lábios novamente. Eu mal havia recuperado minha respiração e ele já queria me deixar sem ar novamente. Joe separou os lábios dos meus e acariciou meu rosto, dando um beijo na ponta de meu nariz.

- Prometa que dirá não. – ele me disse subitamente, eu o olhei confusa. – Para meu irmão. Prometa que dirá que não aceita.

Eu senti meu estomago colar em minhas costas. Kevin. Como eu podia ter me esquecido dele? Estar com Joe me deixava tão bem que eu nem me lembrei que estava namorando com seu irmão ou que ele me pediria em casamento no dia seguinte. Mas eu já sabia o que fazer. Dei um beijo na testa do meu garoto e fiz com que ele se deitasse novamente.

- Esqueça isso. Tudo vai terminar bem. Eu prometo. – eu murmurei para ele.

Eu fiquei um bom tempo observando aquele eclipse, que parecia ser longo demais. Por fim, eu ouvi Joe começar a ressonar baixo, tranquilamente. Eu fechei meus olhos lentamente e peguei no sono logo em seguida.

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