domingo, 21 de novembro de 2010

PoP - Capítulo I


“ On top of the roof
The air is so cold and so calm
I say your name in silence
You don't want to hear it right now ”


A música calma do salão me deixava tonta. Eu me sentia hipócrita por estar em uma festa justo agora. Mas minha dor era tão forte que eu precisava fazer algo para que ela se fosse. Eu só não imaginava que uma festa iria me machucar ainda mais. A decoração era simplesmente linda, acredito que toda decoração de baile de máscara era assim. Faixas douradas e prateadas pendiam das paredes, vasos com rosas brancas se espalhavam pelas mesinhas circulares do salão oval, as luzes coloridas passavam pelo meu corpo, como se implorassem para que eu dança-se. Mas eu não iria dançar, eu não tinha o que festejar, Joseph não estava ali comigo, não havia mais ninguém para me acompanhar naquela dança. Diferente de mim, todas as garotas daquele baile pareciam ter um par. Eu não conseguia reconhecer os rostos direito, afinal, era um baile de máscaras. Tudo o que eu conseguia ver eram máscaras. A minha vida inteira eu apenas vi máscaras. Máscaras de mentiras, de orgulho, máscaras de proteção, mas todas não passavam de máscaras. E, ironicamente, eu estava em um baile de máscaras. Não sei como ainda conseguia ficar ali, não ver o verdadeiro rosto das pessoas era algo que eu não suportava mais.

- Alana. – nem precisei me virar para saber que era minha prima, Jane, me chamando novamente. – Ou você se levanta e vai dançar, ou eu...
- Ou o que, Jane? – eu me virei para ela, a máscara roxa cobria parte de seu rosto – Não tenho nada que você possa tirar de mim e você não tem nada para me dar.

Jane me olhou como me olhava há dias. Com pena. E eu detestava aquilo. A ruiva levantou a máscara e eu pude ver seu rosto. As bochechas marcadas de sardas, os olhos verdes eram mais visíveis agora, apesar da forte maquiagem escura que ela usava, o nariz empinado coberto de glitter. Ela fez um biquinho de lado, eu tirei minha máscara, aquilo estava começando a me irritar.

- Lana... – ela me disse em um tom amigável, como se estivesse falando com uma criança, e eu detestava isso também – Você precisa aceitar prima. – eu neguei com a cabeça, os olhos começando a ficar marejados – Sim Alana, você precisa sim. – ela colocou uma mão sobre meu ombro, como um gesto de consolo – Precisa aceitar que acabou. Ele não vai vol...
- Eu sei Jane! Não precisa repetir, tá legal? – eu desviei meu ombro da mão dela e lhe dei as costas. Eu conhecia minha prima, sabia que ela não viria atrás de mim.

Senti duas lágrimas rolarem pelo meu rosto, eu estava chorando novamente, pela terceira vez naquele dia. Saí para a varanda do salão, um vento frio soprou em meu rosto, mas claro, eu o senti parcialmente, como todas as sensações. Quente, frio, líquido, sólido. Para mim, era tudo a mesma coisa. Nem sempre foi assim, apenas de uma semana pra cá.
Eu me debrucei na mureta da varanda, olhando a paisagem. Estava escuro e a luz da Lua cheia estava fraca naquela noite, talvez porque haveria um eclipse mais tarde e era esse o motivo do baile. Claro, para mim, um eclipse significava muito mais, muito mais mesmo. Eu afastei todas as lembranças de mim naquele momento, eu teria que prosseguir sem Joseph, mas confesso, eu não estava obtendo muito sucesso, afinal, por mais que eu tentasse empurrar, jogar, atirar ou apagar todas as lembranças que ele havia me deixado, acreditem, eu não estava obtendo sucesso algum.


# CAPÍTULO 1 – Dezesseis anos atrás

Eu tinha apenas cinco anos e era meu primeiro dia de aula. Nunca é fácil para uma criancinha encarar a escola pela primeira vez, ainda mais quando praticamente todas as crianças ao seu redor pareciam apavoradas. Eu apertava fortemente a mão da minha mãe e tentava me esconder atrás de meu cabelo preto. Eu tinha sorte dele estar bem longo, assim ele cobria quase metade do meu rosto. Os portões foram abertos e minha mãe começou a caminhar para dentro da escola, sorrindo confiante para mim, só por isso eu não estava chorando também, mas que eu estava completamente assustada, isso era verdade.
Ela parou de andar quando chegamos a ultima sala de um corredor todo colorido. A porta tinha um tom de azul bebê e por trás das pernas da minha mãe eu espiava dentro da sala. Ao menos tentava, porque a mulher de frente para minha mãe não me deixava ver muita coisa além de suas calças de moletom avermelhadas. A mulher agachou-se, ficando da minha altura, um sorriso completamente branco brilhava em seus lábios, os olhos negros e meio puxadinhos pareciam sorrir também, seu cabelo era completamente escorrido e os lábios tinham um tom rosado igual aos da minha mãe.

- Olá pequena. – ela me disse, sorrindo ainda mais – Você vai ficar comigo hoje? – eu neguei com a cabeça para ela, mordendo meu dedo e me escondendo mais ainda atrás da mamãe.
- Que coisa feia, Alana. – mamãe me pegou no colo quando eu comecei a pedir por colo, estava realmente assustada, mas ainda não chorava – Você me disse que ia ficar, lembra?
- Mamãe, ela é má. – eu cochichei para minha mãe, me agarrando ao seu pescoço e desesperada para ir embora dali.
- Por que diz isso? – minha mãe tentava não rir, e a professora também.
- Porque todas as criancinhas tão chorando. E ela vai nos comer. – eu dizia com tanta certeza que qualquer um poderia acreditar.

Minha mãe revirou os olhos e a professora segurou uma risada. Outra mãe chegou ali, segurando um garotinho de cabelos negros e encaracolados e outro com cabelos cortados num “tigelinha” horrível. Eu podia sentir que este garoto estava com tanto medo quanto eu, mas mantinha o nariz empinado e sorria de uma forma engraçada. Eu, que ainda estava no colo da minha mãe, debruçada em seu ombro, acenei de leve para ele, que sorriu e cutucou a mãe.

- Mamãe, por que aquela menina tá com medo? – ele perguntou, em alto e bom tom, sabe, voz de criança é bem alta mesmo.
- Shh, Joe. Que coisa feia. – a mãe o repreendeu, mas em voz baixa, apenas nós a ouvimos. O outo garoto (que devia ser seu irmão) ficou corado.
- Mas mamãe, ela tá sim. – ele continuava afirmando, a voz ainda alta.

Eu endireitei meu corpo no colo da minha mãe, ficando apenas sentada. Eu até podia estar com medo, mas não queria que todo mundo ficasse sabendo.

- Eu não estou com medo. – eu disse para ele, mostrando a língua.
- Alana! – Minha mãe colocou a mão sobre minha boca – O que eu lhe disse sobr...
- Está sim, tá no colo da sua mamãe. – ele dizia como se fosse algo muito engraçado.
- Eu não to não! – e então, eu pulei do colo da minha mãe, mas ainda segurando em sua mão, de jeito nenhum eu queria que ela fosse embora. – Viu?
- Você tá com medo. – agora o garoto cantarolava, e a mãe dele começava a ficar corada e a puxá-lo pela mão, como se o repreende-se silenciosamente.
- Eu não to não! – eu estava com tanta raiva (e com tanta vergonha) que meus olhos finalmente começaram a ficar molhados. Claro, o medo de ficar sozinha também ajudava.
- Alana, você precisa entrar querida, e eu preciso ir. – minha mãe havia se agachado também, olhando em meus olhos como ela sempre fazia.
- Você promete que vai voltar? Eu não vou ficar aqui pra sempre, né? – minha mãe negou com a cabeça, um sorrisinho no canto dos lábios, eu sabia que ela queria rir, o que me deixava mais nervosa.
- Não querida, não vai. Eu volto rapidinho, tudo bem? E a Senhorita Donnes vai cuidar muito bem de você enquanto isso.

Eu concordei com a cabeça e soltei a mão sua mão, ela me deu um beijo na testa e então eu entrei na sala.
Era uma sala meio oval, não era realmente quadrada. As paredes eram todas coloridas e cheias de desenhos infantis, rabiscadinhos, como se tivessem sido desenhados com lápis de cera, as mesinhas eram de madeira pintada, uma de cada cor. Colchões amarelos estavam empilhados no canto da sala ao lado de um baú de madeira enorme, pintado de vermelho e azul por fora. Um pianinho de criança de madeira alaranjada ficava perto da mesa da professora, era lindo, por sinal.
A Senhorita Donnes segurou minha mão e me levou até uma das mesas, colocando-me sentada junto com o tal Joe, seu irmão e mais uma garotinha loira.


- Não tá mais com medo? – ele insistiu.

- Joe, cala a boca! – reclamou seu irmão.
- Não vou não, Nick! – e Nick revirou os olhos para o irmão.
- Eu não tava com medo, seu feioso. – eu mostrei a língua para Joe de novo, o garoto começou a rir.
- Vocês estão brigando? – a garotinha loira perguntou, os olhos um tanto vermelhos, certamente, ela era uma das dezenas de crianças que estavam chorando. – Brigar é feio, sabiam?
- Eu sei, não tava brigando com ele. – eu disse para a menininha, e Joe sorriu, como se concordasse, certamente, era o que estava menos assustado. – Como é seu nome? Meu nome é Alana e o dele é Joe e o dele é Nick. – eu apontei para os dois garotos e para mim mesma.
- Meu nome é Wendy. – a loira sorriu para nós três.

Antes que nós pudéssemos dizer mais alguma coisa, a professora fechou a porta e se colocou a frente da sala.
A Senhorita Donnes abriu um largo sorriso, como se com isso tentasse nos deixar mais à vontade, e ela estava até conseguindo.

- Bom dia crianças. – ela nos saudou – Meu nome é Alice Donnes, mas podem me chamar de Tia Alice.

E daí toda aquela apresentação começou. As crianças disseram seus nomes, a professora fez com que cada um desse um abraço no amiguinho que se apresentava, ou seja, em minutos, todas as criancinhas assustadas estavam rindo e dizendo seus nomes para todo mundo.
 Depois, Tia Alice fez um círculo com todos nós e nos sentou no chão.

- Agora vamos conversar em grupo. Eu quero que vocês digam algo diferente que sabem fazer. – todas as crianças fizeram uma careta de assustadas – Quer começar, Joseph? – ela pediu sorridente.

O garoto ao meu lado engoliu em seco, mas concordou firmemente com a cabeça, levantou-se, o nariz um tanto empinado. Exatamente como ele fez quando tentou esconder que estava com medo.

- E-eu... – ele fez uma pausa, olhou para o irmão e pigarreou baixinho – Eu sei cantar.
- Que bom, querido. – a mulher continuava sorrindo de forma radiante. – Quer cantar para nós?
- Meu irmão pode tocar? – Nicholas puxou o braço do irmão, olhando feio para ele, mas Joe apenas o olhava de forma travessa.
- Você toca, Nicholas? O que? – ou a professora não via que Nick estava tão envergonhado que mal conseguia falar, ou ela gostava de fazer isso com as crianças. Algo me dizia que era a segunda opção.
- P-pi... Piano. – gaguejou Nick, as bochechas tão vermelhas que eu tinha vontade de apertá-lo.
- Ora, muito bem. Então, vocês podem nos mostrar?

Joe sorria convencido e Nick continuava vermelho. Joe fez com que Nick se levantasse e o levou até o pianinho, colocando o irmão sentado no banquinho. A cena era cômica e toda a sala riu, Joe sorriu mais convencido ainda, ficando em pé ao lado do pianinho, mas Nick não tocava. Joe chutou de leve o pé do irmão, que olhou feio para ele e só então começou a tocar. Uma música que eu conhecia, claro. Qualquer criança naquela sala conhecia aquela música.

- You've got a friend in me. You've got a friend in me. When the road looks rough ahead and you're miles and miles from your nice and warm bed. You just remember what your old pal said. Boy, you've got a friend in me. Yeah, you've got a friend in me

Sim, Joe e Nick tocavam e cantavam aquela música de Toy Story. Logo, todas as crianças batiam palmas no ritmo da música e cantavam o refrão com Joe. Aliás, Joe tinha uma voz muito boa de ouvir, era afinado, diferente das outras crianças da sala. Nick parecia ter perdido sua vergonha e estava completamente concentrado em seu piano, os dedinhos deslizando naturalmente sobre as teclas. Joe tinha um carisma anormal para sua idade, os dois tinham um certo comando sobre a turma, como um dom.

- And as the years go by our friendship will never die. You're gonna see, it's our destiny. You've got a friend in me. You've got a friend in me. You've got a friend in me

E eles terminaram, a sala toda aplaudiu. Nick levantou-se do banquinho, deu a mão para Joe e juntos eles agradeceram, como se fosse o final de um show.

- Muito bem meninos. – aplaudiu a professora, sorrindo – Foi realmente muito bom.

Joe voltou a sorrir convencido, talvez seu pequeno ego de criança estivesse quase explodindo, e ele só tendia a aumentar.
 Os dois voltaram para seus lugares no círculo, entre Wendy e eu, e se sentaram.

- Vocês foram muito bons! – Wendy elogiou, Nick sorriu corado, Joe sorriu cheio de si.
- É verdade – eu concordei, balançando a cabeça positivamente – Eu também sei cantar, Joe. – o garoto abriu a boca para dizer algo, mas a voz que ouvi não era a dele.
- Ora Alana, mostre para nós. – pediu a professora.

Eu fiquei vermelha, a sala toda me olhava. É, eu cantava bem, segundo a minha mãe. Mas nunca havia cantado para mais ninguém.

- Vai Alana, canta. – Joe me encorajou, mas seu tom era de desafio.
- Ahmm... Tudo bem... – eu me levantei meio trêmula. Ótimo, qual música eu iria cantar agora? A única música que me veio à cabeça foi a música de meu desenho preferido. Eu só esperava que não ficasse tão ruim. Eu pigarreei baixo.

- Tale as old as time. True as it can be. Barely even friends, then somebody bends unexpectedly

É, a música da Bela e a Fera foi a primeira coisa em que pensei. Eu não tinha o mesmo carisma de “liderança” que Joe, e nem a incrível concentração de Nick, mas a turma parecia encantada com alguma coisa em mim, todos me olhavam com cara de bobos.

- Beauty and the Beast. Tale as old as time, song as old as rhyme. Beauty and the beast

Eu mal terminei de cantar e aplausos começaram. Eu sorri agradecida, segurei em minha calças como se fossem a saia de algum vestido e fiz uma reverência para todos, me sentando em seguida.

- Muito bonito Alana. – a professora cessou as palmas, um grande sorriso brilhava em seu rosto – Vejo que tenho três belos talentos na sala. Isso é ótimo.

Nós três sorrimos para ela, claro, Joe mais convencido que antes. Na época eu nem imaginava, mas eu estava sendo comparada com uma das maiores febres mundial, que também se tornaria o monstro mais orgulhoso e o cara que eu mais iria amar e que mais iria me machucar. Claro, eu nem imaginava isso. Se tivesse ao menos tido alguma noção, teria pedido para minha mãe me mudar de escola. Mas, para minha felicidade (e não estou sendo irônica), eu não sabia de nada.

Price of Pride








Sinopse: Eu o conhecia há tantos anos, e por todos esses anos, sempre brigávamos. Mas, eu estava cansada disso, cansada de me rastejar para ele, implorando pelo seu perdão. Claro, eu apenas não sabia as conseqüências que isso teria.






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OBS: escrevi essa fanfic para participar de um concurso em uma comunidade de fanfics dos Jonas Brothers. Não vou trocar os nomes dos personagens só para agradar quem não gosta da banda, então, faça de conta que é um Nicholas qualquer, um Joseph qualquer e um Kevin qualquer.


OBS²: como foi escrita para um Challenge, eu tinha que escolher alguns itens importantes para a fic de uma lista que as organizadoras ofereciam. Na fanfic, ficaria legal uma cena NC-17. Mas, é a primeira vez que escrevo uma cena assim. Então, não me julguem, tentei deixar a cena o mais leve possível. 


Enfim, eu espero que apreciem.




dedicada à Alana Donola.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TofT - Capítulo IV

20:15 - Jack

Eu estava ficando realmente preocupado. Quer dizer, como uma garota some dentro de uma loja? Tipo, por que a funcionária de um grande parque de diversões como este iria simplesmente sequestrar minha melhor amiga? Sabe, não tem sentido...
Max estava tão confuso quanto eu e David tentava distrair as meninas fazendo truques de mágica com um baralho. Já estava ficando tarde e Alex ainda estava sumida, foi quando meu celular tocou.
- Alô?
- Jack? - eu gelei ao ouvir a voz chorosa de Alex - Jack, onde vocês estão? Por favor, onde estão? - sua voz desesperada me assustava.
- Alex, calma. Nós vamos te buscar, onde é que você está? - dei enfaze no "você", afina, minha preocupação estava passando e era substituída por certa raiva de Alex, por ela ter sumido.
- Eu estou perto da Casa, em frente aquela lanchonete estranha de peixinhos...
- Espere dentro da lanchonete, Alex...
- NÃO! - ela gritou ao telefone e eu ouvi que ela tinha começado a chorar - Não vou entrar em loja nenhuma sozinha...!
- Tudo bem, tudo bem. Apenas sente exatamente onde está e nos espere.- eu comecei a andar na direção dos outros do grupo.
- Jack, venha rápido - ela pediu, como se fosse uma criança - Por favor...
- Já estou aí, Alex... - eu lhe disse e pensei em desligar o celular.
- NÃO DESLIGUE! - ela gritou novamente - Não quero ficar sozinha de novo... - Alex estava realmente assustada.
- Tudo bem Alex, fique calma... - eu a ouvi soluçar e passei o celular para Helena - Fale com Alex, a distraia enquanto vamos buscá-la.

Helena pegou o celular e imediatamente começou a falar com Alex e nós começamos a correr para o outro lado do parque. Estranhei o parque estar vazio, muito calmo. Eram quase nove horas, tínhamos que encontrar Alex e encontrar logo a saída. Helena passou o telefone para Anitra, que só então parou de chorar.
Ofegantes, chegamos à Casa. Olhei para os lados, procurando a tal da lanchonete, quando encontrei uma garota ruiva sentada ao pé de um telefone público, falando ao telefone. Assim que ela nos viu, levantou-se rapidamente, largando o telefone sem nem colocá-lo no gancho e correu em nossa direção, em minha direção. Ela jogou-se em mim e eu a segurei para não cairmos. A ruiva ainda chorava muito, soluçava em meu ouvido. Os outros nos abraçaram e Alex foi parando de chorar aos poucos.
- O que aconteceu, Alex? - eu perguntei quando nos sentamos no chão e ela parou de chorar.
- A Casa... e aquele homem aranha... a menina com a vela... - ela gaguejava e Anitra a abraçou, me olhando mortalmente, Alex escondia o rosto na amiga - Precisamos sair daqui. Agora! - ela disse, a voz meio abafada pelos braços de Annie.
- Tudo bem, vamos embora. - disse Max levantando-se.

Nos levantamos e seguimos para os portões do parque. Eu estranhei porque não encontramos ninguém no parque. Nossos passos leves no chão faziam um eco abafado por onde passávamos. Nenhuma pessoa, nenhuma pessoa vestida de monstro, nenhuma música. Nada.
Tudo ficou claro quando chegamos aos portões. Dois grossos, grandes e altos portões de ferro com um grande cadeado trancado-o, além de travas de segurança. Seria impossível abrir aquela coisa.
Alex chegou ao meu lado, tremendo, os olhos voltando a ficarem vermelhos e molhados, ela agarrou-se em meu braço, apertando-o.
- Jack... Isso significa... - ela começou.
- Que vamos ter que passar a noite aqui. - eu lamentei.

E todas as luzes se apagaram.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ITS - Capítulo II

- 10° dia

É, eu realmente tenho sorte, e agora eu acreditava que o destino me dava a mão e me levava para um lugar bom. Eu não conseguia imaginar melhor lugar do que Henry. Ao menos, não naquele momento. Afinal, até quando eu não pensava nele, algo nos ligava.
 Henry espreguiçou-se e eu fitei seus olhos. Ele tinha um ar cansado, mas energético ao mesmo tempo. Isso me surpreendia, afinal, ele havia tocado até às duas e meia da manhã e hoje acordou às oito da manhã, apenas para me trazer ao parque e passar a manhã de meu aniversário comigo. Eu sei o que estão pensando e já digo: não somos namorados. É, eu sei, estranho. Henry é um tanto lerdo demais, e apesar de qualquer um que nos visse ali apostar que éramos namorados, não éramos. Para meu grande desgosto, claro, afinal, tínhamos tudo para formar um casal. Só faltava Henry se tocar disso.
 - Está tudo bem, Liv? - ele me perguntou enquanto colocava as mãos atrás da nuca e apoiava ambas no tronco da árvore às suas costas.
 - é só um pouco de sono... - ele me olhou como se disse-se "Isso não me surpreende". - Ah, dá um desconto, fui dormir às três e meia da manhã, Henry!
 - Claro... Claro... - ele fechou os olhos serenamente e sorriu. Eu suspirei baixo.


- 4° dia

 - Querem saber? Coloquem uma maldita coleira em mim e me tratem como uma dos cachorros! - eu gritei para meus pais e dei as costas, saí pela porta da cozinha batendo-a de tal forma que fez eco pela rua.
 Era incrível como eles tinham o dom de estragar tudo! Eram minhas férias, meus dias de paz! Eu passei cinco meses me matando de estudar e agora eu não poderia ter apenas quinze dias de folga? Qual era o grande problema em viajar por cinco dias com Alice e Helena? Eles faziam coisas tão piores do que isso quando tinham minha idade e não queria me dar um voto de confiança? Eu realmente odiava isso.
 Quando percebi, já não estava mais no bairro de casa. Eu não sabia para onde estava indo e senti minha raiva incontrolável se transformar em lágrimas. Eu atravessei muitas ruas e nem me preocupei em olhar para os lados ou respeitar o semáforo, meus ouvidos ignoravam o barulho das buzinas e dos palavrões. Eu dobrava qualquer esquina quando enjoava de andar reto. Eu deixava meus pés me guiarem, minha mente estava desligada, não me importava para onde estava indo, desde que fosse longe de casa.
 Parei de andar. Foi como se eu acordasse de um desmaio, agora eu percebia o barulho dos carros e as pessoas ao meu redor . Percebia até o som de música e então olhei onde estava parada. Mais uma vez, eu estava em frente ao Rock's Bar de novo. Era claro que Henry estava tocando com sua banda novamente, eu reconhecia sua voz. Eu olhei para meus pés e sorri.
 - Obrigada... - eu murmurei para eles, como uma idiota, e entrei no bar.
 Como eu já sabia, Henry estava tocando, eu olhei para ele e senti meu rosto corar levemente. Henry levantou os olhos do teclado e me viu ali. Ele sorriu sutilmente e voltou a cantar, só então prestei atenção na música.


♪ If you don't know if you should stay

If you don't say what's on your mind
Baby just breathe
there's nowhere else tonight we should be

You wanna make a memory? ♪

Ele cantava sorrindo, como se estivesse contente apenas pelo fato de eu estar ali. Só então reparei em como estava vestida, usava a camisa do meu pijama e uma calça jeans velha. Tudo bem, eu estava praticamente no centro da cidade, qual o problema? Ao meu ver, nenhum, eu poderia sair só de lingerie que nem me importaria. Mas, naquele momento, eu me importei. Percebi que queria passar uma boa impressão para ele, e  bem.. Tá, eu não tinha planejado ir falar com ele, tinha? Aliás, eu estava ali por que?

♪ You wanna make a memory? 
You wanna steal a piece of time?
You can sing the melody to me
And I can write a couple of lines

You wanna make a memory?
You wanna make a memory?♫

Ele parou de cantar e me encarou. O sorriso brincando em seus lábios. Eu sorri de volta e senti meu rosto molhado. Passei as mangas da blusa em meu rosto rapidamente e agradeci por não gostar de usar maquiagem, caso contrário, eu estaria parecendo mais louca do que já estava. Henry ajeitou o microfone no pedestal.
 - Bem gente, agora vamos fazer uma pequena pausa. Logo voltamos a tocar, obrigado por nos aturarem até agora... - ele disse em tom de brincadeira, e eu ri baixinho.
Henry desceu do pequeno palanque e caminhou até a mim, o rosto um tanto preocupado. Ele me segurou pelos ombros, olhando fundo em meus olhos, sem desviá-los.
 - Liv? O que aconteceu com você? - ele murmurou, passando o polegar pelas minhas bochechas.
Eu senti mais raiva ainda pior estar parecendo uma idiota na frente dele e comecei a chorar de novo. Odiava quando isso acontecia. Henry me abraçou e me guiou até a mesa em que sua banda estava. Pediu algum refrigerante para o garçom e voltou a me encarar. Eu já estava melhor, ao menos, havia parado de chorar. Mas a raiva dentro de mim estava grande demais. Eu realmente não queria voltar para minha casa naquela noite. Quem sabe dali a algumas semanas.
 - Bem Liv, quer comer alguma coisa?
 - Não, estou bem Henry... Obrigada. - eu sorri para ele, que pareceu mais calmo e retribuiu o sorriso.
 - Eu não vou perguntar o que aconteceu de novo, se isso te fizer voltar a chorar, então... O que te traz até aqui hoje? - ele apoiou um cotovelo na mesa e me olhou com certo interesse.
Eu ri por dentro. Bem, isso significava que eu estava mesmo ficando mais calma. Henry estava se tornando um amigo muito mais rápido do que eu poderia imaginar. Se continuássemos assim, quem sabe não poderíamos ser algo mais forte? 
 - Bem, nem eu sei como vim parar aqui... Num momento eu estava em casa discutindo com meus pais e no outro, estava no meio deste bar te ouvindo cantar de novo... - eu dei de ombros.
 - Discutindo com os pais, Liv? - ele tinha novamente um tom preocupado na voz.
 - É, bem... - eu contei para ele toda a história, toda a minha raiva. Henry me olhava com interesse, concentrado, não como quem me julgava "uma filha má", mas como se estivesse me entendendo, coisa que muitos nunca tentavam fazer. O garçom chegou com a Coca-Cola e eu tomei um gole, não era meu refrigerante favorito, mas Henry ainda não sabia disso. - Eu acho que eles são tão... Tão...
 - Super-protetores? Pessimistas? Desconfiados? - Henry começou a listar tudo o que eu poderia ter falado, e eu ri disso.
 - É, algo parecido com isso... 
 - Liv, acredite, isso é tão normal quanto respirar... - ele tocou meu ombro com o próprio ombro - Eu, por exemplo, sou um músico que tem que chegar em casa antes da uma e meia da manhã... - ele fez uma carinha de coitado que eu não aguentei e comecei a rir.
 Continuamos a conversar, logo o resto da banda chegou à mesa e dai sim eu comecei a rir. Eles eram muito mais engraçados todos juntos. 
Logo, uma hora havia se passado, meus olhos estavam secos, minha risada mais verdadeira e eu não me importava se voltaria para casa ou não.
 - Liv, vamos tocar novamente, tudo bem? - eu concordei com a cabeça - Ótimo, fique aqui então.
Todos levantaram-se e foram para o palanque. Henry posicionou-se em seu teclado e piscou um olho para mim.
 - Eu quero que a próxima música possa realmente animar uma amiga minha.- ele sorriu para mim novamente e eu me senti corar.

♪ I wanna runaway
Never say goodbye
I wanna know the truth
Instead of wondering why
I wanna know the answers
No more lies
I wanna shut the door
And open up my mind ♫

Era... Linkin... Park?
Eu realmente fiquei paralisada naquele momento. Henry já tinha uma voz maravilhosa. Cantando Linkin Park ficava... Sete vezes mais linda e gostosa de ouvir! 
Eu não consegui aguentar minha felicidade e comecei a cantar junto com eles. 
Minhas preocupações? Tinham fugido de mim.



quinta-feira, 16 de setembro de 2010

TofT - Capítulo III



19:30 - Alex

Eu abri meus olhos e senti minha cabeça latejar. O que havia acontecido? Eu me lembrava de estar tomando chocolate, a vendedora sorrir maliciosamente para mim, de levar uma pancada na cabeça e então mais nada.
Olhei ao redor e imediatamente soube onde eu estava: dentro da Casa. As paredes de pedras cinzentas e lisas formavam um corredor a minha frente, havia poças enormes de tinta vermelho vivo, as paredes estavam marcadas com a tinta também, como se alguém tivesse tentado segurar-se nelas. Eu me levantei, me apoiando na parede. Revirei meus bolsos procurando meu celular, mas ele não estava comigo. Tudo bem, eu estava do outro lado do parque, sem meus amigos, sem meu celular e com monstros em qualquer lugar que eu fosse. Tudo o que eu poderia fazer era procurar a saída daquele lugar e depois procurar um telefone público. é, era esse meu plano.
Eu comecei a correr pelo corredor, meus passos ecoando secamente pela casa. Ao que parecia, eu estava sozinha. O que não era normal em um parque de diversões grande como aquele. Cheguei em um ponto em que o corredor se dividia em três portas. Quando visitamos A Casa mais cedo, Jack havia escolhido a porta do meio, o que nos levou à muitos monstros e todos aqueles efeitos medonhos feitos para nos assustar. Me chamem de medrosa se quiserem, mas eu não queria tomar mais nenhum susto hoje.

Escolhi a primeira porta e entrei em um cômodo luxuoso e iluminado. Era bonito, se não fosse pelo fato de haver um corpo jogado no meio da sala, imerso em uma poça de sangue, os olhos vidrados em mim, mas sem vida.
Eu berrei e a porta atrás de mim fechou-se com uma batida oca. Instantaneamente a luz apagou-se e eu gritei novamente, me apertando contra a porta trancada. Muito legal, justamente o que eu não queria mais naquela noite... Eu estava tendo. Ouvi o riscar de um fósforo e os candelabros da sala se acenderam, mas o cômodo não iluminou-se tanto quanto antes. E de dentro dos armários e debaixo das almofadas dos dois sofás, surgiram quatro monstros de cera, o rosto completamente derretido, desfigurado, mãos queimadas e murchas, cabelos ralos, chamuscados e sujos, as vestes longas, empoeiradas e queimadas em certos pontos. O mais estranho deles usava uma calça laranja, tênis verde limão e camisa preta, o cabelo desbotado e falho era verde também. Ele não combinava com os outros bonecos, mas avançava aos tropeços para mim igual aos outros.
Eu gritava novamente. Do outro lado da sala havia uma porta, mas eu teria que passar por todos os monstros.
 "Imaginem como ela vai ficar quando escurecer e soltarem os monstros..." eu ouvi as palavras de Jack se repetirem em minha cabeça. Eu franzi a testa. Eram pessoas como eu maquiadas e vestidas pagas para assustarem. E estavam realizando o trabalho muito bem, por sinal. Eu apertei os punhos e comecei a correr em direção à porta, empurrando e derrubando os bonecos do meu caminho. Para minha sorte a porta estava destrancada.
 Eu sai em um quarto pequeno com apenas uma cama e um criado mudo. Deitada na cama estava uma garota mais ou menos da minha idade, cabelos loiros brilhantes, pele extremamente pálida e lábios muito vermelhos. Parecia a Rosalie de Twilight, exceto que a garota era extremamente magra. Ela segurava uma vela acesa com as duas mãos, a cera derretida da vela escorria por entre seus dedos, mas a loira não expressava dor. "Claro, é um boneco, Alex!" eu pensei. Havia outra porta no quarto, em frente a cama. Eu tentei girar a maçaneta, estava trancada. Então senti algo quente pingar em minha blusa. Eu me virei e a loira estava de pé atrás de mim, os olhos vermelhos, antes fechados, agora me fitavam arregalados e enevoados.
Eu comecei a gritar desesperadamente, chutando e socando a porta, a loira tentava pingar a cera em qualquer parte descoberta de meu corpo, ou me queimar com a chama da vela (que não importava o quando ela a chacoalha-se, a chama não se apagava). A loira começava a sorrir de forma maldosa para mim, aquela vela pingando cada vez mais, acertando minha blusa de moletom e furando-a com as chamas. Eu soquei a porta com mais força e ouvi alguém destrancá-la do outro lado, eu a abri eufórica e acabei caindo no chão da outra sala, empurrando a porta com os pés, que fechou-se com um "clock". Ótimo, trancada novamente. Agora era só esperar surgir mais bonecos feios. Aquilo estava me cansando. Eu me levantei e olhei ao redor. O chão daquela sala era coberto por uma grossa camada de cera, tinha uma textura estranha, como se o chão fosse partir-se a qualquer momento. Na sala havia um único e enorme baú dourado. Claro, o baú abriu-se e um cara duas vezes maior do que eu, saiu de dentro, empunhando dois facões enormes que o grandalhão fazia dançar em suas mãos, cortando o ar com um zumbido. Eu comecei a correr, mas correr sobre cera era realmente complicado, eu não saía do lugar, praticamente. Já para o cara, era extremamente fácil. Ele andava rápido em minha direção, me ameaçando com os facões. Eu engatinhei até a outra porta, o cara tentou me acertar com o facão, eu rolei para o lado no último segundo, o facão cortou quase dois dedos do meu cabelo quando acertou o chão, abrindo uma rachadura na cera.
Eu me levantei, louca.

- HEY, CARA! - eu gritei para ele, que se aproximava de mim sorrateiramente, a cabeça ligeiramente tombada para o lado - TÁ FICANDO LOUCO?

Ele riu, um som rouco e gelado, morto. Eu me virei de costas e tentei abrir a porta, não estava trancada, mas sim emperrada. Eu chutei a porta com toda a força que eu tinha e ela abriu-se como se fosse mágica. Passei por ela e a chutei novamente, fechando-a. Havia mais uma porta apenas e ela estava totalmente aberta, eu podia ver os jardins por ela. Eu comecei a atravessar rapidamente a sala, mas parei no meio do caminho quando o último monstro apareceu, barrando a porta. Eu podia enfrentar todos os outros, menos aquele.
O boneco tinha oito membros (provavelmente, os dois pares extras de braços eram mecânicos), onde deveria ser a cabeça de um homem, havia a cabeça de uma aranha feita com cera. Eu sentia ânsia, minhas pernas travaram e eu não conseguia parar de tremer. Eu queria gritar o mais alto que eu conseguisse, mas naquele momento, eu era, eu era uma garotinha muda. Aquele "Homem Aranha" avançou para mim, tocando os braços no chão, parecendo mais ainda uma aranha, correndo em minha direção ainda mais rápido. Bem, 17 anos fugindo de aranhas tinha que resultar em algo bom. Automaticamente eu saltei por cima daquela coisa, acertando o meio de suas costas, fazendo com que ele desmorona-se. Saltei novamente, chorando de novo e medo. A porta estava livre enfim, atrás de mim, aquela coisa começava a erguer-se. Eu cheguei aos portões da Casa chorando como um bebê, com os cabelos dois dedos mais curtos e cortados em uma diagonal horrível, as pernas doendo, o moletom cheio de furos e cera grudada, suada e querendo uma cama. Por sorte, encontrei algo melhor.
Um telefone público.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

TofT - Capítulo II



18:00 - Jack

Minha vontade de cair na gargalhada era enorme. Eu sempre achei graça em toda essa baboseira de monstros, mas não era deles dançando e pulando na minha frente que eu ria, e sim das garotas assustadas.

Alex estava quase branca e eu não entendia por que. A idéia tinha sido dela, afinal. Tudo bem, Alex adorava testar seus limites, mas a ruiva nunca sabia quando parar, tanto que odiava ser desafiada. É, ela tem coragem, devo admitir. Mas vê-la tão branca quanto já era (o que deixava seus longos cabelos acaju mais vivos ainda), os olhos verdes quase lacrimejando e prestes a começar a tremer, era realmente cômico.

- Eu vos aviso, meros mortais – bradou um dos monstros, cessando a música, os outros personagens ficaram imóveis. As vestes rasgadas e sujas de cera do homem tocavam levemente o chão e se moviam de uma forma sinistra com o vento. Ele parecia um morcego, na real – Vossas vidas são delicadas demais para que vocês possam ficar despreocupados... – lentamente, os outros monstros começaram a descer do palco, até que o cara que falava ficou sozinho, sorrindo ameaçador – E nesta noite, vocês irão perceber que eu vos falo a verdade... – seus olhos brilharam em um tom avermelhado. Belo jogo de luzes – CORRAM!

Ouvimos o som de pratos de uma bateria e o parque ficou todo escuro. Meus braços foram agarrados, possivelmente por Alex e Helena, que estavam realmente geladas. Alguma coisa começou a mover-se rapidamente pela multidão que se apertava. E então ouvimos um grito estridente e luzes vermelhas foram acesas. Um boneco de cera estava pendurado por um gancho pelo pescoço na cobertura do palco, uma tinta vermelha pingava de sue corpo. E eu me senti ser empurrado pela multidão que queria correr para longe dali.

- Eles estão soltos Jack! – Alex estava desesperada, me puxava com força para acompanhar nosso grupo, mas eu não me movia, continuava olhando fixamente para o boneco pendurado – Anda, vamos correr!

Eu pisquei duas vezes para desviar meu olhar daquele corpo. Obviamente era um boneco, mesmo que não parecesse.

- Jack... – Alex choramingou, só então olhei para ela. A ruiva realmente chorava – Por favor...

Eu a peguei no colo rapidamente e comecei a correr. Agora eu tinha que encontrar o resto do pessoal, mas naquele aglomerado seria impossível. Enquanto eu corria, Alex escondia o rosto em meu pescoço e tentava parar de chorar. Eu desviei de dois monstros que entraram em meu caminho antes de entrar na loja mais próxima. Convenientemente, ou não, era uma loja de chocolates. Alex desceu do meu colo tremendo e sentou-se em um dos bancos do balcão, eu me sentei ao seu lado.

- Quer ir embora Alex? – eu lhe perguntei carinhosamente, afinal, ela parecia prestes a desmaiar.

- Não. – ela limpou as lágrimas. Eu odiava essa teimosia dela – Eu estou bem. Só me assustei um pouco...

- Um pouco? – eu arqueei uma sobrancelha.

- Esqueça. – ela revirou os olhos – Vamos encontrar os outros e tudo ficará bem.

Eu concordei com a cabeça. Uma mulher com longas vestes negras e roxas e com uma cicatriz maquiada no lado esquerdo do rosto apareceu dos fundos da loja, sorrindo convidativa.

- Desculpem a demora. Deseja alguma coisa? – ela perguntou, focada em Alex, como se eu nem estivesse ali.

- Tome um chocolate, Alex. Vou ali fora ligar para o Max. – eu me levantei, ela me segurou e me olhou temerosa.

- Não pode ligar daqui de dentro? – sua voz estava tremida.

- Desculpe Alex, celulares não pegam bem aqui no parque, menos ainda dentro de lojas... – eu acariciei seu braço para acalmá-la.

- Mas...

- São três minutos Alex, prometo. Não deixo nenhum monstro entrar, okay? – eu pisquei para ela que me soltou lamentosa.

Eu saí da loja e liguei para o Max. Aquele bossal demorou para atender.

- Alô? – ele disse, a ligação estava chiando.

- Onde vocês estão?

- Na frente daquele brinquedo de água... – cara! Era quase do outro lado do parque!

- E como foram parar aí?

- Correndo, oras... – ele riu.

- HAHA. Idiota.

- E onde você tá? Alex tá contigo?

- Sim, ela tá tomando chocolate quente para se acalmar.

- Naquela loja de chocolates perto do palco?

- É, basicamente.

- Tá, nos esperem aí então.

Ele desligou. Eu olhei ao redor, o lugar estava bem calmo. Acho que todos correram para o outro lado do parque.

Entrei novamente na loja. Havia uma xícara com algo quente dentro. Nenhuma vendedora. Nenhuma garota. Nada. Apenas o chocolate. E sobre o banco onde Alex deveria estar, seu celular. Ela NUNCA largava seu celular.

- Alex?

Ninguém me respondeu, a não ser meu fraco eco.

Eu saí para o fundo da loja, de onde a vendedora havia saído. Nada além de mais chocolate. E uma porta escancarada que dava para as ruas do parque.

Saí da loja desesperado. Liguei para Max novamente, desta vez ele atendeu rápido.

- O que foi agora? – ele perguntou entediado.

- Alex sumiu.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ITS - Capítulo I

– 10° dia

O sol já estava se pondo quando encostei minha cabeça no ombro de Steven. O garoto apoiava o violão em seu colo deu alguns acordes perdidos, misturando várias músicas a cada dois acordes que ele dava. Ele estava contente. Eu estava contente. E como poderia não estar? Ali estávamos nós, sentados no lugar mais alto da cidade, vendo o sol se por, uma cesta de piquenique ao nosso lado e a música maravilhosa de Steven. Qualquer garota estaria tão contente quanto eu em meu lugar. Mas, eu tinha algo que elas não tinham: minha incrível sorte.

– 1° dia

Corríamos como três idiotas, os carros buzinavam alto demais, encobrindo o turbilhão de palavrões que eles lançavam sobre nós. E eu ria disso tudo. A noite estava sendo mais engraçada do que eu previra, minha primeira noite de férias estava mesmo valendo a pena.

O cappuccino em meu estômago começava a reclamar da correria e aos solavancos eu fui parando de correr, Helena e Alice faziam o mesmo. Só então percebi que estava ficando sem ar, tive que respirar fundo três vezes para conseguir parar de rir.

- Ah, droga! Meu tênis desamarrou de novo! – resmungou Helena enquanto caminhava rápido para uma casa ao lado, onde apoiaria o pé para amarrar o tênis.

E momentaneamente, as buzinas pararam de tocar e eu pude perceber uma música, uma música que eu conhecia.

What have we found?

The same old fears

Wish you were here

Eu fiquei estática naquele momento. Não acreditei, só podia ser um CD... Era bom demais pra ser...

- ALICE! – eu agarrei no braço da garota ao meu lado, ela assustou-se e deu um pulo para o lado- Isso é o que eu to pensando?

- Ahmmm... – ela me olhou com cara de “Você acha que eu leio pensamentos” – Depende...?

- PINK FLOYD! – eu gritei e olhei na direção de onde vinha a música. Era algum tipo de bar, só que mais limpo e organizado. A parede que dava para a rua era aberta, havia uma parte mais alta onde estavam algumas mesas. Eu procurei a banda que tocava e de fora do bar eu podia vê-los. Eu realmente, não acreditava no que estava ouvIndo – PINK FLOYD ALICE! É...

- Pink Floyd. Okay Liv, okaaaay... – ela disse em um tom calmo, como se quisesse acalmar uma criancinha excitada com algum doce. Tá, minha reação havia sido praticamente a mesma.

- Vamos entrar? –eu olhei com os olhos de cachorro sem dono pra ela.

- Entrar? Mas estamos sem dinheiro...

- E quem disse que precisamos comprar alguma coisa? – eu girei os olhos para ela. Naquele momento, a banda havia parado de tocar. Claro, a música havia acabado.

- Viu? Acabou Liv. Vamos continuar andando... – ela deu dois tapinhas em minhas costas e eu olhei feio pra ela. Quando percebi, Helena estava ao nosso lado novamente.

- Hey, por que as duas estão paradas ai? – ela sacudiu as mãos na nossa frente, como se quisesse ver se ainda estávamos acordada.

E então eu percebi que eles haviam voltado a tocar. Helena também ficou com o olhar perdido, um sorriso idiota no rosto. Alice tentava gaguejar o nome da música, e eu segurava para não rir. De lá de dentro, o vocalista começou a cantar.

And I'd give up forever to touch you

'Cause I know that you feel me somehow

You're the closest to heaven that I'll ever be

And I don't want to go home right now

And all I can taste is this moment

And all I can breathe is your life

And sooner or later it's over

I just don't want to miss you tonight

- IRIIIIIIS!! – elas quase gritaram juntas. Eu comecei a rir daquela cena.

- E então, Alice? Vamos entrar ou não?

Alice pareceu nem me ouvir direito. Agarrou meu pulso e o de Helena e nos arrastou para dentro do bar. Havia uma única mesa vazia naquele lugar, e onde ela ficava? Praticamente, bem na frente do pequeno palco onde a banda tocava. Alice estava nos arrastando em direção a aquela mesa, até que eu “acordei”. Estávamos sem dinheiro, entrando em um bar, nos sentando logo na primeira mesa e bem de frente para a atração daquele lugar. Com certeza, alguém iria achar estranho. Iriam nos confundir com bandidas ou coisa pior, talvez.

Mas não pude argumentar, pois logo em seguida, Alice estava me socando em uma cadeira e sentando-se ao meu lado direito. Do meu lado esquerdo, estava Helena, com a maior cara de retardada do mundo! Tá, a música era realmente linda, mas ela precisava mesmo ficar com aquela cara de boba-alegre?

Eu olhei para a banda pela primeira vez enquanto cantarolava a melodia em um tom baixo. Havia um baixista... Estranho; Um baterista... Engraçado; Um garoto com cara de pivete tocando um violão (que eu nem conseguia ouvir); Ao lado dele, um garoto muito parecido com o baixista, só que menos... Estranho... Tocando guitarra; E no teclado e no vocal ao mesmo tempo, havia um garoto também. A diferença entre ele e os outros garotos? Ele parecia estar realmente realizado naquele lugar. Como se tocar e cantar fossem a vida dele. Ele sorria enquanto cantava (eu não consigo nem sorrir enquanto penso, imagine enquanto canto!), os cabelos escuros e encaracolados balançavam conforme ele tentava dançar&tocar&cantar ao mesmo tempo. Os olhos estavam fechados, e mesmo assim, pareciam incrivelmente concentrados. Ele terminou a música com perfeição e abriu os olhos. Eles eram tão escuros, mas tão brilhantes, que fizeram os meus olhos brilharem. Não consegui pensar direito, na verdade, eu nunca pensava, mas de qualquer forma, eu me senti hipnotizada por aqueles olhos.

- Né Liv? – Helena cutucou meu braço e eu balancei a cabeça como se estivesse acordando.

- Hãn? – eu tentei falar alguma coisa, mas afinal, sobre o que elas estavam conversando?

- É, e depois a brisada da turma sou eu... – Helena comentou e eu dei de ombros. – Então, eu disse que eles tocam muito bem... – ela repetiu o que quer que ela tenha diot antes.

- É... – eu disse vagamente, atordoada – Tocam...

O garoto no teclado correu os olhos pelo lugar, e em questão de segundos, ele fixou seus olhos nos meus. Ele sorriu.

- Bom... – ele começou a falar, os olhos ainda presos em mim – A próxima música, acho que poucos devem conhecer... – ele olhou para os outros caras da banda e contou baixo.

When i find myself in times of trouble
Mother mary comes to me
Speaking words of wisdom, let it be.
And in my hour of darkness
She is standing right in front of me
Speaking words of wisdom, let it be.
Let it be, let it be.
Let it be, let it be.
Whisper words of wisdom, let it be.

Eu senti meu queixo cair. Eles... Estavam tocando...

- Beatles? – eu disse com a voz um tanto... Aguda? É, acho que seria isso.

- Como é Liv? – Alice me olhou sem entender.

- B-Beatles Alice... É... Let It Be! – eu olhei feito uma retardada para a banda.

O vocalista parecia se divertir com a minha reação, e eu tinha certeza que ele estava olhando diretamente para mim. Ou eu estava certa, eu estava ficando realmente louca. Não percebia mais nada ao meu redor, só conseguia prestar atenção em uma única coisa.

Algo dentro de mim fazia um som que acompanhava as batidas da música. Eu sabia que meu coração machucado estava batendo novamente.